O presidente e o tesoureiro da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (AEFEUP) apresentaram a sua demissão, na sequência das notícias que davam conta de que fotografias e vídeos de alunas daquela instituição de ensino tinham sido partilhados num grupo do WhatsApp sem o consentimento das vítimas.
“Desde que a situação foi identificada, a restante direção da AEFEUP promoveu o apuramento rigoroso dos factos e a verificação da veracidade das informações, imediatamente acompanhado pela identificação e contacto direto das vítimas identificadas, tendo sido prestado apoio individualizado e solidário, respeitando sempre a sua privacidade. No decorrer deste processo, o presidente e o tesoureiro da direção apresentaram a sua demissão formal à Mesa da Assembleia Geral”, informou o organismo, num comunicado divulgado esta terça-feira nas redes sociais.
A associação reforçou ainda o seu “mais sincero pedido de desculpas a todas as estudantes afetadas pelos atos inaceitáveis ocorridos durante a Gala da AEFEUP, no dia 14 de março”, tendo apontado que “a partilha não autorizada de imagens e vídeos de elementos do sexo feminino, sem o consentimento das pessoas visadas, acompanhados de comentários inapropriados, que objetificam as mulheres, representou uma exposição de privacidade e quebra de confiança da comunidade”.
“Importa esclarecer que nenhuma dessas captações corresponde a imagens feitas ‘debaixo de saias’ ou ‘debaixo das mesas’. Ainda assim, lamentamos profundamente o impacto que todos estes comportamentos causaram, sendo totalmente incompatível com os princípios de respeito e igualdade que defendemos”, ressalvou, numa referência às acusações proferidas pela presidente da associação Não Partilhes, Inês Marinho.
Na quinta-feira, a ativista denunciou, através do Instagram, que "várias raparigas foram fotografadas debaixo das mesas e, sucessivamente, por debaixo das saias". Disse ainda que o grupo de WhatsApp, que é composto por oito pessoas, entre elas ex-membros e elementos atuais da associação, incluindo o presidente, existe "há alguns anos".
Nessa linha, e “reconhecendo a gravidade dos acontecimentos e o impacto que os mesmos têm na confiança da comunidade estudantil”, a associação indicou que “os membros associativos envolvidos foram afastados da direção da AEFEUP, nomeadamente de todas as decisões relativas a este acontecimento”.
“Esta decisão reflete uma assunção de responsabilidade individual e não deve ser confundida com os valores e princípios que regem a AEFEUP enquanto associação estudantil. Reafirmamos que estes comportamentos são totalmente contrários à missão e aos princípios que defendemos. Além disso, a AEFEUP atuou com o apoio de um advogado externo assegurando que todas as decisões tomadas eram fundamentadas e acompanhadas tecnicamente. Em nenhum momento foram tomadas decisões precipitadas ou sem aconselhamento adequado”, lê-se.
A AEFEUP garantiu também que “continuará a trabalhar para garantir que situações como esta não se repitam, com foco na escuta ativa, no apoio às vítimas e na reconstrução da confiança da comunidade”, estando “plenamente comprometida com os valores de ética e o respeito pela dignidade de todos os membros da comunidade académica”.
O diretor da FEUP, Rui Calçada, explicou, na sexta-feira, estar a acompanhar "de forma atenta e rigorosa" o evoluir da situação e realçou que "estão a ser recolhidas e analisadas todas as informações relevantes de forma a apurar com rigor os factos em causa e os eventuais responsáveis".
Por seu lado, a Federação Académica do Porto (FAP) considerou que o momento atual exige tolerância zero perante quaisquer situações de abuso e discriminação no sistema de Ensino Superior, que é um espaço de promoção dos valores de igualdade e respeito.
"Até ao momento, a FAP não recebeu qualquer queixa relativa ao caso noticiado. Porém, caso se verifique a receção de qualquer denúncia, a mesma será remetida à Inspeção-Geral da Educação e Ciência para imediata averiguação", frisou.
Nesta sequência, a FAP voltou a defender a criação de um mecanismo nacional que permita aos estudantes, vítimas de assédio ou discriminação, a apresentação de denúncias em condições de segurança e confidencialidade.
Leia Também: Imagens de alunas da FEUP partilhadas sem consentimento no WhatsApp