Situada na Avenida Almirante Reis, uma das zonas com maior concentração de imigrantes na capital, esta clínica de medicina dentária da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa destaca-se por promover os conceitos de inclusão e multiculturalidade.
Desde que abriu em agosto de 2019, já foram ali realizadas mais de 155 mil consultas, numa média de 180 por dia, disse o fundador do SOL, André Brandão de Almeida, durante uma visita da agência Lusa ao serviço, a propósito do Dia Mundial da Saúde Oral, assinalado hoje.
Nas salas de espera, crianças e jovens acompanhados pelos pais aguardam a sua vez, distraindo-se com os filmes de animação que passam nas televisões espalhadas pelo espaço.
Há dois anos que Bianca Henriques, 16 anos, é acompanhada no SOL. À Lusa, contou que "tinha a mordida torta, dentes fora do sítio e outros que precisavam de nascer e não tinham espaço", o que a obrigou a usar aparelho ortodôntico.
Até colocar o aparelho, que retirou na terça-feira, Bianca realizou os exames e as consultas necessárias e será acompanhada até completar os 18 anos.
Bianca estava acompanhada pela mãe, Carla Santos, que destacou a importância do SOL num país em que ir ao dentista é quase um luxo, considerando que seria "uma ação de grande valor" alargar este serviço a todo o país.
Além disso, os profissionais "são muito simpáticos, sempre disponíveis", disse Carla Santos, sublinhando que "tem sido uma experiência muito positiva e uma ajuda muito grande".
Solange Semedo acompanhava o filho Lucas, de 10 anos, que também vai colocar aparelho, porque tem "os dentes um bocadinho saídos", estando já a fazer os moldes e as fotografias para iniciar o processo.
A mãe contou que tem mais dois filhos acompanhados no SOL, um serviço que considera fundamental, sobretudo, para quem tem uma família grande.
Cláudio Navalha, 20 anos, já ultrapassou a idade limite para ser ali acompanhado, mas a colocação do aparelho pouco antes de fazer 18 anos dilatou esse prazo.
Desde os 16 anos que Cláudio é acompanhado no SOL, por recomendação do antigo dentista, e confessou que "foi o melhor sítio" de medicina dentária onde já esteve e onde perdeu o medo de ir ao dentista.
"Ontem já estava contente porque hoje vinha ao dentista. Tornou-se um hábito", comentou, com um grande sorriso.
Diretora clínica do SOL, Carina Simão realçou a importância deste serviço ao prestar assistência gratuita, independentemente da condição social ou económica da família da criança.
"É um serviço que tem esta grande mais-valia de garantir cuidados de saúde oral a todas as crianças e jovens isentas de custos adicionais para as famílias", complementando uma resposta ainda "muito deficitária" no Serviço Nacional de Saúde".
Destacou, por outro lado, "a sorte" de o serviço ter "um vasto leque de nacionalidades", desde crianças do Brasil, Canadá, Inglaterra e até do Iémen.
"Temos uma multiculturalidade muito grande, também, um bocadinho ao encontro da resposta que também vemos na cidade e no concelho de Lisboa, com cada vez mais crianças e famílias residentes de uma outra nacionalidade", sustentou.
Às vezes, a língua pode tornar-se um desafio e uma barreira, para os profissionais, mas que são ultrapassados com ajuda do familiar e falando inglês "praticamente diariamente".
Todos os dias chegam ao SOL cerca de 15 novos utentes que são acolhidos por uma equipa com 14 médicos dentistas, três higienistas, 14 assistentes dentárias e quatro técnicos administrativos, distribuídos por 11 gabinetes adaptados às idades e às especialidades.
"Todos os dias temos primeiras consultas e isso é uma coisa que nos deixa muito feliz e que nos permite reafirmar e ter a consciência de que estamos a fazer um bom trabalho", disse a responsável.
Assinalou que as famílias estão a levar as crianças em idades cada vez mais precoces o que permite fazer este acompanhamento "desde tenra idade" até à idade adulta, promovendo hábitos saudáveis e ter "crianças e jovens com saúde".
No SOL, uma iniciativa pioneira e única em Portugal, é prestado todo o tipo de assistência ao nível da saúde oral, sendo o objetivo primordial trabalhar na prevenção.
"Mas, infelizmente, ainda temos muitos casos de prevalência de uma das doenças mais comuns na infância, a cárie dentária", além de um número considerável de alterações ao nível da oclusão, que exigem tratamento ortodôntico.
Segundo André Brandão de Almeida, já foram atribuídos 2.662 aparelhos de ortodontia, a grande maioria gratuitamente, explicando que no caso das famílias com um rendimento maior o seu custo é de 200 euros, valor que pode ser pago faseadamente.
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