"Tinha contacto mais direto com o vice-presidente [da câmara], mas isso não significava ter influência", afirmou João Pedro Lopes perante o coletivo de juízes do Tribunal de Gaia, no distrito do Porto.
Na oitava audiência de julgamento, o advogado garantiu que nunca pediu qualquer favor a Patrocínio Azevedo para agilizar processos imobiliários, nomeadamente no Skyline, onde representava os promotores do projeto.
O Skyline implicava a construção uma torre residencial, que seria a mais alta do país, apartamentos, hotel de cinco estrelas, centro de congressos, praça urbana, parque de estacionamento, escritórios e retalho.
"Nunca pedi que fizesse nada por este processo", vincou.
A Operação Babel, relacionada com a alegada viciação e violação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Gaia, tem 16 arguidos, incluindo Patrocínio Azevedo, os empresários do ramo imobiliário Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, acusados de dezenas de crimes económicos, como corrupção e tráfico de influências.
O Ministério Público (MP) sustenta que Elad Dror e Paulo Malafaia "combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul", contando com o alegado favorecimento por parte do antigo vice de Gaia, que receberia em troca dinheiro e bens materiais como relógios.
Segundo o MP, o advogado João Pedro Lopes, igualmente arguido neste processo, fazia a ponte entre Paulo Malafaia e Elad Dror com Patrocínio Azevedo.
O advogado pediu para a acusação do MP demonstrar, nas imensas mensagens trocadas que constam do processo, uma única vez em que pediu favores ao ex-autarca.
"Pedi favores ao Patrocínio Azevedo, mas para o Clube Atlântico da Madalena [onde era presidente]", sublinhou.
Esta questão da existência ou não de favores por parte de Patrocínio Azevedo a João Pedro Lopes, que lhe ofereceu três relógios em 2019, 2020 e 2021, surgiu depois de o juiz querer saber como é que o advogado, que representou a família que iria vender o terreno para o Skyline, passou a prestar serviços aos compradores daquele.
"Porque é que o contrataram? Foi porque se mexia bem na câmara, porque tinha conhecimentos", questionou o magistrado.
"Não, não", respondeu João Pedro Lopes, que, de seguida, acrescentou que os promotores consideraram que como já conhecia o projeto teria mais facilidade em dar-lhe seguimento.
"Eu tinha um interesse pessoal, que era receber os honorários, e como munícipe", frisou.
Leia Também: Operação Babel: "Hoje, estou arrependido de ter recebido [os relógios]"