Polícia moçambicana impede marcha contra "perseguição e baleamentos"

A Polícia da República de Moçambique (PRM) impediu hoje, no centro de Maputo, a marcha de um grupo de jovens que pretendia protestar contra "perseguição e baleamentos" de ativistas e opositores políticos em Moçambique.

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Lusa
19/04/2025 11:55 ‧ há 5 horas por Lusa

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Maputo

A marcha, que era promovida por um grupo de conhecidos ativistas sociais, devia começar na estátua Eduardo Mondlane, no centro de Maputo, por volta das 08h30 (menos uma hora em Lisboa).

 

O destino era a Procuradoria-Geral da República, onde os manifestantes pretendiam submeter um documento de protesto contra a falta de esclarecimentos sobre o baleamento de figuras críticas à governação do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

Vários grupos da Unidade Intervenção Rápida (UIR), polícia antimotim, tomaram o local onde a marcha devia começar, contingentes fortemente armados e com veículos blindados e pelo menos um camião equipado com canhões de jato de água.

"Esta é mais uma prova clara de que o aperto de mão entre Daniel Chapo [Presidente moçambicano empossado em janeiro] e Venâncio Mondlane [político que liderou as manifestações pós-eleitorais no últimos meses] foi apenas para inglês [ver]. Hoje, depois de termos comunicado e seguido todos protocolos exigidos, não devíamos ser impedidos de marchar", disse à Lusa o ativista Clemente Carlos, um dos organizadores da iniciativa.

Embora tenham sido impedidos de permanecer na estátua, os manifestantes tentaram percorrer a avenida Eduardo Mondlane, mas, depois de quase um quilómetro, as autoridades, sem disparar, obrigaram o grupo a abandonar o local.

"Vocês têm três minutos para sair daqui", declarou um comandante de uma das unidades, enquanto os membros da força de proteção obrigavam, por vezes à força, os jovens com cartazes a abandonarem o local.

"Nós só queríamos marchar e submeter um documento para que se pare com todas essas matanças. Porque nunca vimos nenhum crime público destes a ser julgado, nunca vimos a própria polícia, que disparou contra população em vários momentos, a ser julgada", disse à Lusa Inocêncio Manhique, outro ativista na marcha.

A marcha foi convocada na sequência do baleamento, no domingo, de Joel Amaral, um aliado do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, no centro de Moçambique.

Amaral, que está em "cuidados intensivos embora a evoluir bem", foi baleado no bairro Cualane 2.º, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, por um grupo que se deslocava numa viatura todo terreno, quando a vítima seguia numa bicicleta.

Joel Amaral é um músico, autor de temas que mobilizaram apoiantes de Mondlane nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023) e depois para as presidenciais (2024).

Venâncio Mondlane, que classificou o baleamento de Amaral como mais um caso de "intolerância política", ameaçou convocar protestos "100 vezes piores" se a "perseguição política" aos seus apoiantes continuar.

Mondlane, que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro, liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), com protestos em que cerca de 390 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.

O Governo moçambicano confirmou anteriormente, pelo menos, 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.

Contudo, em 23 de março, Mondlane e o Daniel Chapo, Presidente já empossado, encontraram-se pela primeira vez e foi assumido o compromisso de cessar a violência no país.

"Eu fui obrigado a ir apertar a mão ao Presidente que foi colocado pela Comissão Nacional de Eleições e pelo Conselho Constitucional porque me garantiram que a perseguição, as mortes e os sequestros iriam parar. Mas, com o que aconteceu com o Joel Amaral, eles estão a cumprir?", questionou o político um dia após o baleamento de Amaral.

Logo após as eleições gerais de 2024, o assessor jurídico de Venâncio Mondlane, o advogado Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Cuambe, partido que apoiava a sua candidatura presidencial, foram baleados mortalmente no centro de Maputo, crime que provocou a comoção na sociedade moçambicana e que continua por esclarecer.

O Presidente moçambicano reagiu ao baleamento de Joel Amaral classificando-o como uma "afronta à democracia" e pedindo uma "investigação cabal".

Leia Também: FMI e Moçambique concordam em acabar atual plano de ajuda e desenhar novo

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