Macron vai lançar projeto de memória sobre "a injustiça imposta ao Haiti"

O Presidente francês, Emmanuel Macron, deverá lançar um projeto na quinta-feira para reconhecer a "injustiça inicial" imposta ao Haiti, que teve de pagar uma indemnização exigida pela França em troca da sua independência.

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© MICHEL EULER/POOL/AFP via Getty Images

Lusa
16/04/2025 23:24 ‧ há 2 dias por Lusa

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Por ocasião do bicentenário do reconhecimento da independência do Haiti, que atravessa uma crise política, de segurança e humanitária, o Presidente francês vai reconhecer "a força injusta da história que atingiu o Haiti desde o seu nascimento" como Estado, informou hoje o Palácio do Eliseu aos jornalistas, acrescentando que a França vai lançar um processo de memória antes de decidir uma eventual reparação.

 

Deverá revelar um "método" para realizar um "trabalho histórico aprofundado" para avaliar o impacto desta indemnização no "desenvolvimento do Haiti", explicou um conselheiro do chefe de Estado.

"O Presidente estará pronto para tirar todas as conclusões quando este trabalho estiver concluído", acrescentou, sem no entanto esclarecer se envolveria uma eventual indemnização financeira.

O "trabalho de reconhecimento e não de arrependimento", segundo a presidência francesa, deve inspirar-se no que já foi feito durante os dois mandatos de Emmanuel Macron a propósito da guerra da Argélia, do genocídio no Ruanda e da colonização francesa nos Camarões.

Depois de ter proclamado a sua independência em 1804, na sequência de uma vitória militar sobre a força expedicionária de Napoleão, as autoridades haitianas aceitaram, em 17 de abril de 1825, sob a ameaça da frota francesa, pagar 150 milhões de francos-ouro de indemnização aos antigos proprietários de terras e de escravos, em troca do reconhecimento da sua independência pelo rei Carlos X.

A soma foi depois reduzida para 90 milhões em 1838.

Para pagar esta dívida, a jovem república das Caraíbas teve de contrair empréstimos a taxas muito elevadas junto de bancos franceses - numa altura em que o preço do café, de longe a sua principal fonte de rendimento, estava a cair a pique.

Esta "dupla dívida" só foi saldada em 1952, altura em que foram efetuados os últimos pagamentos de juros.

O Palácio do Eliseu reconhece que "tudo isto pesou evidentemente no destino da jovem nação haitiana" e "teve um impacto profundo na história do Haiti".

Questionado sobre a possibilidade de "restituição" desta dívida, como foi exigido no Haiti, o Palácio do Eliseu respondeu que "o objetivo deste trabalho será tirar um certo número de conclusões que serão historicamente indiscutíveis, para ver como a França, em termos práticos, pode completar o caminho de reconhecimento a que se comprometeu".

"O Presidente não tem medo de pedir perdão", mas este é apenas "o início do processo", acrescentou o conselheiro.

De acordo com o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, pelo menos 4.239 pessoas foram mortas e 1.356 feridas no Haiti entre julho e fevereiro últimos, com armas que entraram ilegalmente do estrangeiro, apesar do embargo de armamento imposto pelo Conselho de Segurança da ONU.

Noventa e dois por cento das vítimas foram atingidas por armas de fogo que circulam no país, que são cada vez mais sofisticadas e que são entre 270.000 e 500.000 unidades, afirmou Türk, ao apresentar ao Conselho dos Direitos Humanos o mais recente relatório da sua organização sobre este país das Caraíbas.

O Haiti fechou o ano de 2024 com um balanço sangrento, segundo dados verificados pela ONU: mais de 5.600 pessoas morreram em consequência da violência, outras 2.212 ficaram feridas e registaram-se 1.494 sequestros.

Leia Também: Emmanuel Macron recebe Marco Rubio em Paris na quinta-feira

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