Os funcionários não americanos que trabalham nas delegações da USAID no estrangeiro representam mais de 40% do total do pessoal de uma agência que a administração Trump e o Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk (DOGE, na sigla inglesa) tencionam desmantelar completamente e entregar grande parte das suas funções ao Departamento de Estado.
Muitas dessas pessoas, que foram notificadas da demissão por email, trabalham para a USAID há décadas e servem como seus representantes no terreno, tirando partido dos seus contactos e do conhecimento da língua e dos costumes locais.
"É um desperdício de talento", disse um funcionário da USAID, que considerou o despedimento 'especialmente insultuoso para aqueles que estão em locais perigosos' e continuam a trabalhar. "Vão ficar sem nada", lamentou, segundo a CNN, que teve acesso à carta de despedimento.
Há algumas semanas, a USAID já tinha anunciado que uma grande parte dos seus trabalhadores iria perder o emprego em resultado desta política de cortes, o que significaria a destruição de cerca de 1.600 postos de trabalho.
A agência emprega mais de 10.000 pessoas, com cerca de 4.800 contratações diretas dentro e fora dos EUA.
Os cortes vão muito além dos trabalhadores, com cada vez mais relatos das consequências diretas da falta de apoios que a USAID prestava um pouco por todo o globo.
Ainda hoje, a Organização Não-Governamental (ONG) Save the Children revelou que pelo menos 871 pessoas morreram por cólera no Sudão do Sul desde outubro, e associam pelo menos oito óbitos nas últimas semanas a cortes de ajuda humanitária.
Os cortes de financiamento na África Oriental também afetaram os programas na Somália, onde mais de seis milhões de pessoas enfrentam uma insegurança alimentar aguda, sendo que mais cortes de financiamento podem empurrar milhões de pessoas para uma situação de fome generalizada.
Em março, o Programa Alimentar Mundial (PAM) afirmou que 3,4 milhões de somalianos já se encontravam em situação de crise de fome ou pior e que, a partir de abril, apoiaria "820.000 pessoas mensalmente com alimentos e assistência em dinheiro, abaixo de um pico de 2,2 milhões alcançado mensalmente em 2024".
O Departamento de Estado dos EUA afirmou, na terça-feira, que reverteu os cortes de financiamento dos projetos de emergência do PAM em 14 países empobrecidos, incluindo a Somália, dizendo que tinha rescindido alguns dos contratos de ajuda vital por engano.
"Na Somália, a ajuda desempenha um papel vital no apoio às pessoas deslocadas internamente, às pessoas afetadas pelo conflito e a outras comunidades vulneráveis que dependem fortemente da assistência humanitária", afirmou Mohamed Elmi Afrah, um trabalhador humanitário e analista político sediado na Somália, sublinhando que os efeitos dos cortes de financiamento eram globais, mas o "impacto é especialmente grave em África".
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