A reação mais exuberante até agora foi da Polónia, onde o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou o gesto como "uma nova vitória" sobre Moscovo.
Cortar a capacidade de Moscovo exportar gás diretamente para a União Europeia (UE) é "uma nova vitória após o alargamento da NATO à Finlândia e à Suécia", considerou Radoslaw Sikorski, na rede social X.
Por seu lado, a Áustria mostrou-se calma, adiantando que o fornecimento de gás ao país está garantido.
"Fizemos o nosso trabalho e estamos bem preparados para este cenário", afirmou a ministra da Energia, Leonore Gewessler, explicando que o Governo já tinha feito contratos para fornecimento de gás natural através de outras rotas e fornecedores.
Além disso, o país da Europa Central tem capacidade para importar anualmente um valor muito alto de energia à Alemanha e à Itália.
O corte de fornecimento de gás pela russa Gazprom à Áustria já tinha acontecido em meados de novembro devido a um litígio sobre o cumprimento de contratos com a empresa austríaca de hidrocarbonetos OMV, a maior da Europa Central e propriedade do Estado austríaco.
As entidades gestoras de energia e o Governo alertaram então que estavam preparados para a situação, que a Áustria tem alternativas para abastecer estes fornecimentos e não sofrerá escassez, apesar de até então ter adquirido à Rússia mais de 80% do gás que consumiu.
Já na Eslováquia, a reação foi muito diferente. O primeiro-ministro, Robert Fico, alertou para as graves consequências da interrupção do trânsito de gás através da Ucrânia, afirmando que "terá um impacto drástico para todos na UE e não apenas para a Federação Russa".
Se a dependência da Europa foi significativamente reduzida desde o início da guerra na Ucrânia, os Estados localizados no Leste continuam a obter fornecimentos significativos de Moscovo.
Robert Fico, que continua próximo de Vladimir Putin e cujo país é muito dependente do fornecimento de gás russo, deslocou-se a Moscovo no dia 22 de dezembro para tentar encontrar uma solução urgente.
A Hungria, que será afetada apenas marginalmente já que a maior parte das suas importações de gás russo são recebidas através do TurkStream, que passa sob o Mar Negro, também criticou a situação, com o primeiro-ministro, Viktor Orbán, a defender que não se devia "abandonar esta estrada".
Outro dos países preocupados com a nova situação é a Moldova, que declarou mesmo o estado de emergência.
Este país vê ser-lhe cortado o fornecimento de gás russo no contexto de uma disputa financeira com esta antiga república soviética que acaba de reeleger uma Presidente pró-europa.
A Gazprom já tinha interrompido grande parte das suas entregas a este país após o início da invasão russa na Ucrânia, abastecendo agora apenas a região separatista pró-Rússia da Transdnístria.
A sua central térmica ainda fornece 70% da eletricidade consumida por todo o país, um dos mais pobres da Europa.
A Ucrânia suspendeu hoje, às 05h00 de Lisboa, o transporte de gás natural russo através do seu território, tal como tinha avisado, no âmbito do fim do contrato que se recusou a renovar com um país com quem está em guerra há quase três anos.
O contrato de fornecimento de gás era uma fonte de receitas multimilionárias para a Rússia, que permitia à empresa Gazprom exportar para a Áustria, a Hungria, a Eslováquia e a Moldova, mas também significava cerca de 700 milhões de dólares (cerca de 672 milhões de euros) por ano para a Ucrânia.
A decisão foi explicada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa declaração feita em Bruxelas no dia 19 de novembro, quando afirmou recusar que a Rússia continua "a ganhar milhões" enquanto mantém uma política de agressão ao seu país.
A Rússia garantiu, no entanto, que vai sobreviver ao encerramento da passagem do seu gás pela Ucrânia.
Fontes da Comissão Europeia garantiram que o impacto desta nova situação "será limitado" no abastecimento da União Europeia, já que têm sido rápidos em encontrar fontes alternativas de energia.
Com o fim deste trânsito e mais de dois anos após a sabotagem dos tubos Nord Stream no Mar Báltico, a Europa passará a ser abastecida com gás russo apenas pela TurkStream e pela sua extensão Balkan Stream.
Além disso, importa grandes quantidades de gás natural liquefeito russo por navios-tanque.
A Gazprom, que já foi a maior exportadora de gás do mundo, registou um prejuízo de cerca de 6,5 mil milhões de euros em 2023, naquele que foi o seu primeiro ano sem lucros desde 1999.
As suas exportações diárias para a Europa através do território ucraniano ascenderam, nas últimas semanas, a cerca de 40 milhões de m3, para um volume total fornecido em 2023 de 14,65 mil milhões de metros cúbicos, segundo dados oficiais.
Neste contexto tenso, o preço do gás europeu atingiu na terça-feira a marca simbólica dos 50 euros por megawatt-hora, o valor mais alto desde há mais de um ano.
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