Na quinta-feira, as forças de segurança do novo Governo instalado pelos rebeldes islamitas lançaram uma vasta operação contra as "milícias" de Bashar al-Assad.
"Em menos de uma semana, cerca de 300 pessoas foram detidas em Damasco e nos seus subúrbios, nas regiões de Homs, Hama, Tartous, Latakia e mesmo em Deir Ezzor", disse hoje à AFP, Rami Abdel Rahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Entre as pessoas detidas encontram-se "informadores dos antigos serviços de segurança do regime, homens armados leais ao regime e pró-iranianos, soldados e oficiais de baixa patente, que foram encontrados a cometer assassínios e atos de tortura", disse Rami Abdel Rahmane, cuja organização tem uma vasta rede de fontes e parceiros em toda a Síria.
"A campanha ainda está em curso, mas nenhuma personalidade conhecida foi detida" -- disse -, com exceção do general Mohammed Kanjo Hassan, chefe da justiça militar durante o regime de Bashar al-Assad que, segundo os ativistas, executou milhares de sentenças de morte na sequência de julgamentos sumários contra os detidos na prisão de Saydnaya.
O OSDH revelou ainda ter documentado a morte de um total de 59.725 pessoas sob tortura e maus-tratos nas prisões do regime deposto de Bashar al-Assad desde o início da revolução no país, em 2011.
A ONG afirmou em comunicado que, dessas pessoas, pelo menos 10.885 casos puderam ser documentados "com nomes" após o derrube do regime de Bashar al-Assad, há três semanas, cujos serviços de segurança deixaram para trás documentos que revelam o martírio dos detidos.
Com estes dados, o número total de pessoas que perderam a vida nos "centros de detenção" que a ONG conseguiu documentar "nominalmente" desde o início da revolução, há quase catorze anos, "ascende a 59.725, entre as mais de 105.000 pessoas que, segundo o observatório, morreram dentro das prisões".
De acordo com o observatório, nestas prisões "os detidos enfrentavam as mais horrendas formas de tortura física e psicológica, desde espancamentos brutais, choques elétricos e arrancar de unhas, até à privação de comida e de sono".
A ONG instou a comunidade internacional a "tomar medidas urgentes e concretas para garantir que os autores de torturas e assassínios sob tortura (...) sejam responsabilizados. Estes julgamentos devem ter lugar em território sírio e sob a supervisão de organismos internacionais independentes.
Na sequência de uma ofensiva relâmpago, uma coligação de rebeldes armados, dominada por islamitas, entrou em Damasco a 08 de dezembro, obrigando o antigo Presidente a fugir e marcando o fim de mais de 50 anos de domínio absoluto do clã Assad.
No sábado, o novo chefe dos serviços secretos, Anas Khattab, prometeu um plano de reestruturação de todo o aparelho de segurança, denunciando a "injustiça e a tirania do antigo regime, cujas agências de segurança semearam a corrupção e infligiram torturas" ao povo.
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