"Estou disposto a tomar as medidas positivas necessárias e a fazer o apelo", disse Öcalan, de 76 anos, num comunicado publicado hoje no site do partido DEM, a esquerda pró-curda da Turquia, depois de uma delegação deste partido o ter visitado na prisão.
O líder curdo apontou que "os acontecimentos em Gaza e na Síria mostraram que a solução para esta questão, que as intervenções externas tentaram transformar num problema crónico, não pode ser adiada".
"Sem dúvida, uma das plataformas mais importantes para estas contribuições será a Grande Assembleia Nacional Turca", declarou o fundador do PKK e até hoje considerado o líder intelectual da guerrilha que cumpre pena de prisão perpétua desde 1999 em confinamento solitário numa prisão na ilha de Imrali, no Mar de Mármara, cerca de 50 quilómetros a sudoeste de Istambul.
Na sexta-feira foi divulgado que o Ministério da Justiça autorizou a visita de uma delegação de políticos, algo inédito já que numa década Öcalan só recebeu visitas muito esporádicas de familiares ou dos seus advogados.
No sábado, Öcalan recebeu a visita dos deputados Sirri Süreyya Önder e Pervin Buldan, duas figuras históricas do partido DEM (anteriormente conhecido como HDP) que já faziam parte da delegação do partido pró-curdo (então conhecido pela sigla BDP) que em 2013 se encontrou com o líder da guerrilha.
Em 2015, intensificou-se o combate armado entre militantes do PKK e as forças turcas, sem sinais de novas negociações até outubro passado, quando o líder do partido ultranacionalista MHP, Devlet Bahçeli, propôs convidar Öcalan ao Parlamento para anunciar a dissolução do PKK.
O MHP é o principal aliado do AKP, do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
"Possuo a competência e a determinação necessárias para dar um contributo positivo ao novo paradigma apoiado pelo Sr. Bahçeli e pelo senhor Erdogan. Todos estes esforços elevarão o país ao nível que merece e servirão como um guia valioso para a transformação democrática. Esta é uma era de paz, democracia e fraternidade para a Turquia e a região", sublinhou agora Öcalan.
Por sua vez, Önder e Buldan afirmaram, em comunicado, ter realizado "uma reunião abrangente" com Öcalan.
"A sua saúde é boa e a sua moral está notavelmente elevada. As suas avaliações destinadas a encontrar uma solução permanente para a questão curda foram de importância crítica", destacaram os dois políticos, defendendo também o abandono da luta armada e das aspirações de independência curda.
"Fortalecer mais uma vez a irmandade turco-curda não é apenas uma responsabilidade histórica, mas também de importância decisiva e urgência para todos os povos", afirmaram.
Esta visita a Öcalan suscitou grandes expectativas na opinião pública turca, entre a esperança de que a disponibilidade do líder preso para a paz seria decisiva para pôr fim ao conflito sangrento que afeta o país há décadas.
No entanto, ainda não se sabe como os líderes ativos do PKK que têm as suas bases na montanha Kandil, no norte do Iraque, reagirão a este apelo.
Em março de 2013, durante o festival curdo Newroz, Öcalan declarou publicamente o fim da luta armada e o abandono das aspirações de independência através de uma carta.
Figuras como Buldan e Önder desempenharam papéis fundamentais nas negociações entre o PKK, o seu fundador preso, e o Governo para pôr fim ao conflito, até que um cessar-fogo acordado foi quebrado em 2015.
Considerada hoje uma organização terrorista não só por Ancara, mas também pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o PKK iniciou a sua luta armada em 1984 para procurar a independência dos curdos que viviam na Turquia.
Desde então, mais de 45 mil pessoas foram mortas em confrontos armados entre os rebeldes do PKK e as forças de segurança turcas.
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