Na passada quarta-feira, 4 de dezembro, os Estados Unidos acordaram com a notícia de que Brian Thompson, diretor-executivo de uma das maiores seguradoras de saúde do país, foi morto a tiro à porta de um hotel em Manhattan, em Nova Iorque. No entanto, a morte trouxe pouca empatia e houve até quem brincasse com a situação. Porquê?
Brian Thompson, de 50 anos, trabalhava na United Healthcare há mais de 20 anos, tendo ocupado o cargo de diretor-executivo da empresa em 2021. Fundada em 1974, no Minnesota, a seguradora é a quarta maior empresa norte-americana cotada em bolsa em termos de vendas, com um conglomerado de seguros de saúde avaliado em 560 mil milhões de dólares.
Após a morte do diretor-executivo, foram várias as pessoas que brincaram com o ocorrido e fizeram trocadilhos com políticas de empresas de seguros. "Lamento, mas é necessária autorização prévia para pensamentos e orações" e "Ele tem um historial de tiroteios? Cobertura negada", são alguns dos comentários citados pela revista New Yorker.
Um pedido de seguro de saúde recusado pode instantaneamente alterar a trajetória de uma vida para a falência, a miséria e a morte
Segundo explica Jia Tolentino, jornalista da New Yorker, "para a maioria dos norte-americanos, uma empresa como a UnitedHealthcare representa menos a prestação de cuidados médicos do que um obstáculo ativo à sua receção".
De acordo com dados do ValuePenguin, um site de defesa de consumidor especializado em seguros, em 2023, a empresa teve a taxa de recusa de indemnização mais elevada de todas as companhias de seguro privadas: 32%. A média do setor é de 16%.
"O assassínio de Thompson é um sintoma do apetite americano pela violência; o seu ramo de atividade é outro... Para as pessoas que não têm dinheiro ou ligações sociais em hospitais ou a capacidade de passar semanas a fio ao telefone, um pedido de seguro de saúde recusado pode instantaneamente alterar a trajetória de uma vida para a falência, a miséria e a morte", sublinhou Tolentino.
Por sua vez, Arwa Mahdawi, colunista no britânico The Guardian, colocou a questão: "Se encontrasse a pessoa que matou Brian Thompson, a) entregava-a à polícia ou b) continuava a viver o seu dia alegremente?"
Para Mahdawi, "99% dos Estados Unidos escolhiam a opção b", tendo em conta a "reação alegre" sobre a morte.
"Houve muitas histórias chocantes sobre como a UnitedHealthcare arruinou a vida das pessoas ao negar cobertura. O que não tem havido é muita simpatia para com o diretor-executivo da seguradora de 50 anos. Num país que não consegue concordar em muita coisa, muitas pessoas parecem concordar com a citação de Clarence Darrow: 'Nunca desejei a morte de um homem, mas já li alguns obituários com grande prazer'", escreveu num artigo de opinião, no sábado.
Explicando que "a recusa de pedidos de indemnização é aparentemente muito lucrativa" e que diretor-executivo ganhou mais de 10 milhões de dólares em 2023, a autora defendeu que "Thompson era o rosto de um sistema injusto que tramou milhões de pessoas" e que a sua morte foi resultado da "raiva contra um sistema injusto em que a elite raramente parece enfrentar quaisquer consequências pelos seus atos".
O suspeito do homicídio colocou-se em fuga após o crime e recorreu a uma bicicleta elétrica para se dirigir para o Central Park, onde foi avistado pela última vez pelas autoridades norte-americanas.
Na segunda-feira, cinco dias após a autoridade, foi detido num McDonald's da Pensilvânia após ser identificado por um funcionário. Trata-se de Luigi Mangione, um aluno de elite de 26 anos, que terá tido como motivação a política da seguradora.
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