O ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, considerou, esta quarta-feira, que o presidente norte-americano, Donald Trump, “tem uma visão retrógrada e completamente incorreta do problema” dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que alertou que uma recessão “é muito provável nesta altura”. Nesse caso, “o cenário vai ser de emergência”.
“[Uma recessão] é muito provável nesta altura. Estas iniciativas de Trump vão, inevitavelmente, alterar a organização do sistema económico e comercial internacional. Vai ser uma nova ordem económica, uma reconstituição das cadeias de abastecimento”, começou por dizer, em declarações na Grande Entrevista, na RTP3.
O advogado esclareceu que, ainda que Trump não o mencione, “são empresas americanas que muitas vezes controlam a tecnologia e a propriedade intelectual sobre os bens que estão a ser produzidos”, apesar de os produtos “poderem ser feitos na China ou noutro lado”.
“O que Trump está a fazer é dar um golpe mortal naquelas regras que permitiram esta situação”, disse.
Pedro Siza Vieira indicou que não se sabe “que mundo é que aí vem”, mas ressalvou que “já estávamos a ver uma grande preocupação pela redução das dependências estratégicas”, assim como “uma desconfiança cada vez maior entre os países e os atores económicos”.
“Não encontro racionalidade no raciocínio do presidente Trump, não lhe reconheço capacidade estratégica. Acho que aquele que neste momento está a ser feito é quase um navegar à vista. Nos últimos três dias, tivemos membros do seu governo a dizer coisas contraditórias”, recordou.
Aliás, o antigo ministro equacionou que a pausa de 90 dias hoje anunciada para os países que não tenham retaliado poderá ser indicativo de que Trump está “talvez assustado com o que se está a passar”.
“Trump tem uma visão retrógrada e completamente incorreta do problema. [...] Está nostálgico de um tempo anterior e não tem o temperamento, a cultura histórica para perceber o que está a fazer. No entanto, tenho dito que nada do que se está a passar devia surpreender ninguém. Não só Trump tinha prometido isto, como havia um plano bem delineado por um conjunto de agentes, que se chamava Projeto 2025, em que se anunciava exatamente o que se está a fazer nos Estados Unidos”, disse.
Se tivermos uma crise como a de 2008, o cenário vai ser de emergência, e o Governo tem de estar preparado para a gerir, como geriu a da Covid-19
Pedro Siza Vieira explicou que “há um problema de fundos dos Estados Unidos”, uma vez que “são uma economia que consome mais do que aquilo que produz internamente e, portanto, tem um défice comercial de bens e uma necessidade muito grande de pedir dinheiro emprestado”. Recordou, contudo, que Biden já tinha mostrado preocupação em reduzir a dependência, mediante incentivos para a instalação de empresas estrangeiras.
Ainda assim, o advogado mostrou-se pessimista e alertou que, “se tivermos uma crise como a de 2008, o cenário vai ser de emergência, e o Governo tem de estar preparado para a gerir, como geriu a da Covid-19”.
“Acho que há um risco muito elevado de uma crise muito elevada que vai obrigar as empresas e o Governo a trabalhar muito de perto”, disse, e apontou que “os partidos não estão a falar de nada sobre o contexto internacional”, que pode afetar os portugueses.
E complementou: “Quero acreditar que, se houver uma crise, os partidos serão capazes de perceber a responsabilidade que têm e mobilizar-se, como na Covid-19.”
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