Liedson da Silva Muniz é um nome que, nos dias de hoje, ainda paira no imaginário dos adeptos do Sporting. Nascido a 17 de dezembro de 1977 em Cairú, na Bahia, este antigo futebolista que muitas alegrias deu aos apoiantes do clube de Alvalade teve um início de vida que nada indicava que poderia vir a tornar-se jogador de futebol.
Tudo começou em Valença, uma pequena cidade do litoral baiano, a poucos quilómetros de São Salvador. Foi lá que Liedson trabalhou como mecânico de automóveis e teve várias funções num supermercado, ao mesmo tempo que jogava futebol em clubes pequenos no Brasil. O despedimento do supermercado acabou por mudar a vida ao então jovem.
O sonho de ser futebolista seria cumprido em 1999. Após dar nas vistas num torneio local, Liedson assinou o seu primeiro contrato profissional com 21 anos, vestindo a camisola do Esporte Clube Poções. Ainda alinhou no Prudentópolis, antes de chegar ao Coritiba em 2001. Rapidamente deu nas vistas e o 'salto' para emblemas de maior nomeada acabou por acontecer.
O primeiro grande teste foi no Rio de Janeiro. Em 2002, e depois de brilhar no Coritiba, foi contratado pelo Flamengo, onde em 29 jogos marcou 15 golos. A ascensão meteórica teve, no entanto, percalços. No Rio de Janeiro, Liedson sofreu com o atraso de salários e acabou por romper o contrato com o Mengão. No ano seguinte, mudou-se para o Corinthians. No Timão conquistou o Paulista, o primeiro título coletivo da carreira, apontou 22 golos em 38 jogos e virou um dos ídolos dos adeptos do emblema de São Paulo.
Liedson no Flamengo© Getty Images
Depois de quase ter rumado à Ucrânia, Liedson acabou por mudar-se de armas e bagagens para o Sporting em 2003, já com o campeonato em andamento. O brasileiro foi recebido com alguma desconfiança não só de ter trabalhado no supermercado, mas sobretudo por causa do seu corpo franzino, o que lhe valeu desde cedo a alcunha de 'levezinho'. Porém, as dúvidas rapidamente desapareceram. Atacante veloz e de grande mobilidade, Liedson tornou-se num dos maiores goleadores da história do Sporting.
O antigo avançado estreou-se de leão ao peito a 2 de setembro de 2003 num jogo em que Sporting perdeu 4-1 na visita ao FC Porto, de José Mourinho. Desde logo se impôs como peça fundamental na formação leonina. Liedson foi duas vezes o melhor marcador do campeonato (2004/05, com 25 golos, e 2006/07, com 15 golos) e ganhou um lugar na história dos verde e brancos com os seus 172 golos.
Mas como nem tudo é feito só de marcar golos, Liedson também se envolveu em algumas polémicas. Em mais do que uma ocasião, o ex-jogador chegou atrasado das suas viagens até ao Brasil, o que irritou sucessivas equipas técnicas. Um dos mais conhecidos casos de indisciplina aconteceu no natal de 2004, quando José Peseiro orientava os leões. O avançado foi passar as férias à terra-natal e regressou com diversos dias de atraso, sem avisar a direção do clube. O regresso ao futebol brasileiro parecia estar no horizonte do levezinho.
Liedson celebra a conquista de uma Taça de Portugal pelo Sporting© Getty Images
No início da temporada 2005/2006, Liedson manifestou vontade de voltar ao Corinthians, mas acabou por continuar em Alvalade. Nesta época, o brasileiro voltou a chegar atrasado e Paulo Bento, então treinador dos leões, não hesitou em deixá-lo fora da convocatória num jogo no Dragão, obrigando o avançado a rever o seu comportamento. Na altura era o melhor marcador da equipa.
A permanência em Alvalade, por vezes de mãos dadas com a indisciplina, trouxe novas conquistas ao baiano. A 22 de Outubro de 2008, Liedson tornou-se no melhor marcador da história do Sporting nas competições europeias, ao marcar o golo com que os leões derrotaram o Shakhtar Donetsk, na Ucrânia. A 18 de janeiro do ano seguinte, o avançado alcançou o título de jogador estrangeiro com mais golos marcados ao serviço do Sporting, ao apontar três dos cinco golos com que a turma lisboeta goleou o Paços de Ferreira, em jogo a contar para a Taça da Liga, superando uma marca estabelecida por Yazalde.
Em Agosto de 2009 adquiriu a dupla nacionalidade, sendo de imediato chamado à seleção nacional por Carlos Queiroz e logo com impacto imediato. Estreou-se por Portugal no dia 5 de setembro de 2009, entrando ao intervalo de um encontro na casa da Dinamarca para marcar o golo do empate que qualificou a equipa das quinas para o Mundial'2010. Foi ao lado de Cristiano Ronaldo na África do Sul que marcou um dos quatro remates certeiros em 15 internacionalizações pelo país que o acolheu em 2003.
Liedson foi internacional por Portugal em quatro ocasiões© Getty Images
O 300.º jogo de leão ao peito apareceu em outubro de 2010, pouco meses antes da saída de Alvalade. A 31 de Janeiro de 2011, Liedson foi confirmado como reforço do Corinthians. Deixou Alvalade com duas Supertaças Cândido Oliveira e duas Taças de Portugal, mas sem o tão desejado título de campeão nacional.
De novo ao serviço do Timão, Liedson começou imediatamente a marcar golos, contribuído decisivamente para a conquista do Brasileirão de 2011, ao ser o artilheiro da equipa com 12 golos marcados. Em dois anos apontou 28 golos no Corinthians e teve um papel fundamental na caminhada para a conquista da Taça Libertadores em 2012.
Liedson após a vitória na Taça Libertadores© Getty Images
Na época seguinte, o rendimento baixou de Liedson no emblema de São Paulo baixou e acabou por não renovar o contrato, transferindo-se em agosto de 2012 para o Flamengo. Esta segunda vida no Mengão também não correu bem e o avançado acabou por ser colocado na lista de dispensas no final desse mesmo ano civil. Mas ainda haveria tempo para um último cartucho na Europa.
Em janeiro de 2013, e contra todas as expectativas, Liedson regressou a Portugal pela porta do FC Porto quando já tinha 35 anos. Na altura, assumiu publicamente que jogar no FC Porto era um sonho antigo, o que acabou por não cair bem para os lados de Alvalade, onde ainda era recordado como um ídolo. Prova disso foi a monumental assobiadela de que foi alvo quando defrontou o Sporting em Lisboa em março desse mesmo ano.
Liedson foi campeão nacional ao serviço do FC Porto© Global Imagens
Embora nunca tenha sido titular habitual no FC Porto - fez sete jogos de dragão ao peito -, acabou por ser determinante na conquista da I Liga em 2012/13. Num Clássico contra o Benfica na Invicta, Liedson foi lançado por Vítor Pereira na reta final da partida quando tudo estava empatado e acabou por fazer a assistência para Kelvin. O brasileiro não só fez o golo que garantiu a vitória ao FC Porto, como esteve ligado ao momento em que Jorge Jesus, então treinador do Benfica, ficou de joelhos no Estádio do Dragão.
A passagem fugaz e sem golos pelo FC Porto acabou no verão de 2013. O avançado regressou ao Brasil e pouco depois colocaria um ponto final na carreira de futebolista. De lá para cá, pouco se sabe sobre a vida do eterno levezinho. Em 2016, espalharam-se boatos de que Liedson teria morrido. O ex-jogador teve de recorrer às redes sociais para negar o sucedido. Atualmente, o antigo internacional português vive com a família em Valença, na Bahia, onde tem um escolinha de futebol.
Todas as semanas o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'O que é feito de...?', que pretende recordar o percurso de algumas personalidades do mundo futebolístico que acabaram por cair no esquecimento.
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