"Sinto-me como ídolo em Dunkerque. Projeto fez-me crescer como treinador"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador português explica as razões que o levaram a aceitar o desafio de orientar o Dunkerque, clube de uma pequena cidade portuária em França, garantindo estar muito feliz em solo gaulês.

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Rodrigo Querido
24/03/2025 07:11 ‧ há 2 dias por Rodrigo Querido

Desporto

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Luís Castro é o nome da moda em França. Conhecido por ter ganho a UEFA Youth League pelo Benfica, em 2022, com o Benfica, o técnico deixou para trás uma carreira totalmente feita em Portugal e rumou a uma pequena cidade portuária em solo gaulês. Dunkerque é, por estes dias, uma localidade que vive e respira felicidade por conta do treinador de 44 anos.

 

O minhoto tem superado todas as expectativas neste pequeno emblema que disputa a segunda divisão do futebol francês. Além de estar na luta pela promoção à Ligue 1, o Dunkerque apurou-se de forma histórica para as meias-finais da Taça de França, onde irá medir forças com o Paris Saint-Germain. Com 42 pontos na Ligue 2 e atualmente em terceiro lugar, está a quatro do líder Lorient, sendo que irão subir, no final da época, dois emblemas.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Luís Castro explica as razões que o levaram a aceitar este convite de orientar o Dunkerque. Uma conversa com o ex-futebolista Demba Ba mudou tudo e colocou Castro na rota do que pode ser mais um feito na sua carreira.

Dunkerque? Na altura não me parecia um clube com a dimensão que eu queria treinar

Como é surgiu essa hipótese de rumar ao Dunkerque há duas temporadas?

O meu objetivo principal era entrar num dos países das 'Big Five' [França, Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha]. Sabia que as primeiras Ligas eram praticamente impossível com o meu currículo. Falei com algumas pessoas que conhecia no futebol e disse-lhes que estava interessado em sair de Portugal e experimentar um destes países. Um empresário luso-francês, o Kévin Antunes, que já conhecia desde o tempo do Vitória SC e que sempre gostou do meu trabalho e queria, inclusive, ter um relacionamento mais próximo de trabalho comigo, falou-me de alguns projetos, um dos quais o do Dunkerque. 

Na altura, quando eu vi o clube em si, não me suscitou muita vontade. Não me parecia um clube com a dimensão que eu queria treinar. Depois de conhecer o Demba Ba [diretor de futebol profissional do Dunkerque] e de ele me explicar o projeto que tinha pela frente e aquilo que ele pretendia, gostei muito projeto. Juntamente com o Demba e com esse empresário decidimos abraçar este projeto.

E que grandes desafios já encontrou em França nestes dois anos?

É uma Liga muito competitiva, com qualidade individual muito acima do normal de uma segunda Liga. Basta ver que a segunda Liga francesa vende jogadores para várias das primeiras Ligas, inclusive das cinco Ligas mais fortes do mundo. Além disso, fez-me crescer como treinador que era essa perspetiva que tinha e obrigou-me a novos desafios. É um mercado complicado e basta ver que eu fui o único treinador estrangeiro que acabou a época passada na segunda Liga francesa. Esta época, neste momento, sou também o único treinador estrangeiro. O Bruno Baltazar esteve no Caen algum tempo, mas neste momento sou o único treinador estrangeiro na segunda Liga. Isso demonstra desde já que é um desafio enorme para qualquer estrangeiro treinar este campeonato.

Sou um treinador que gosta de trabalhar jovens, de trabalhar com bons jogadores e  que não tem medo de apostar em jogadores jovens

Olhemos um pouco para o plantel que tem à sua disposição. Há muitos jovens na equipa, um pouco ao encontro do que tem sido a carreira do Luís na formação até chegar ao nível profissional. Foi opção sua não ter um grupo de trabalho mais experiente?

Quando o Demba Ba me apresentou o projeto e eu fiquei interessado, essa era uma das vertentes do projeto. Era poder pegar em jogadores jovens com potencial, mas que ainda não eram conhecidos em França e no mundo de futebol, e trabalhá-los. Também foi por isso que me contrataram, sabendo que tinha experiência e capacidade para potenciar jogadores jovens. Sou um treinador que gosta de trabalhar jovens, de trabalhar com bons jogadores e  que não tem medo de apostar em jogadores jovens. Não foi difícil fazer a conexão com o projeto do clube e com a minha identidade. Aquilo que está a acontecer nesta época faz parte do meu ADN, que também é o ADN do clube.

E como é que surgiu a ideia de contratar o Diogo Queirós?

Foi o departamento de scouting. Inclusive, quando me apresentaram o nome de Diogo, era para o número seis e eu só o conhecia como defesa-central. Eu perguntei ao chief scout porque me estava a trazer o Diogo Queirós se estávamos à procura de um número seis e ele era um central. Quando me apresentou o Diogo como opção para essa posição fiquei um pouco baralhado. Ele disse-me que o Diogo estava a jogar a seis no Farul. Depois fizemos como sempre fazemos, fomos ver os jogadores, as opções que haviam para a posição. Realmente o Diogo tinha jogado a seis na Roménia e a partir dali passou a ser uma das opções para contratar.

Notícias ao Minuto Diogo Queirós rumou a França no verão passado. Leva 15 jogos esta temporada© USL Dunkerque  

O Dunkerque tem dado cartas na Ligue 2, mas também na Taça de França. Está, inclusive, nas meias-finais da prova contra o PSG. Derrotou o Auxerre, que só tinha perdido uma vez esta temporada em casa, e venceu ainda fora de portas o Lille e eliminou de forma heróica o Brest. Que balanço faz desta participação? Está surpreendido com a resposta da equipa?

Não estou nada surpreendido. Nós fomos para todos os jogos com o objetivo de vencer. Se virem os jogos, foram jogos em que jogámos para vencer. Por exemplo, com o Brest estávamos a perder 2-0, e a 30 minutos do final fizemos três substituições que foram claramente três substituições para tentar ganhar o jogo. Não estou surpreendido porque este era o nosso objetivo. Alcançámos algo até agora muito positivo e difícil, super difícil de executar. Das três equipas da Ligue 1, quando fomos ganhar ao Auxerre eles só tinham uma derrota em casa. Só o AS Monaco tinha ganho na casa deles, inclusive o PSG não tinha ganho lá. O Lille é uma das equipas que ficou nos oito primeiros lugares da Champions, e o Brest também era uma equipa que passou na Champions. Ou seja, o nível de dificuldade é enorme. Foi para isso que trabalhámos e penso que passámos com mérito.

E não teme sofrer um resultado pesado contra o PSG? É dos adversários mais complicados que já defrontou em França…

Para ser honesto, eu ainda nem sequer estou a pensar no jogo do PSG. A minha forma de trabalhar e de pensar é muito específica de jogo a jogo. Eu sei que se começar a pensar em alguma coisa do género do PSG, para a direita ou para a esquerda, não vou estar 100% focado no próximo jogo. E nós temos um jogo super importante de campeonato. Eu ainda não pensei de todo no PSG. Conheço a equipa, como é evidente. Vi os jogos do Liverpool como um adepto de futebol. Mas não analisei. Não falei com o meu staff sequer do PSG. Não tenho a mínima ideia dos verdadeiros pontos fortes e pontos fracos. Sabemos que é uma das melhores equipas da Europa. Isso está mais do que provado depois de terem feito o que fizeram contra o primeiro classificado da Premier League.

Um pouco à semelhança do que acontece por vezes em Portugal, o Dunkerque terá de jogar este jogo fora de portas, no caso no estádio do Lille. A sua equipa parte em desvantagem por causa de jogar longe do calor do próprio estádio? 

Foi uma opção do clube. Podíamos receber em casa, mas sem condições para os todos nossos adeptos poderem ver o jogo. A dimensão do estádio não permitiria que todas as pessoas de Dunkerque, que querem ver o jogo, tivessem essa possibilidade. A única vez que o Dunkerque foi a uma meia-final da Taça de França foi há 97 anos e o futebol ainda não era profissional nessa altura. Sendo praticamente a primeira vez que vai a uma meia-final e contra o PSG, o clube também quis proporcionar aos adeptos de Dunkerque poderem presenciar esse jogo.

Mas deixou-o de alguma forma triste não poder jogar esta eliminatória em casa?

Não posso ir por aí. Sou uma pessoa que olha muito para as coisas todas do lado positivo. Podíamos ir por aí, se jogássemos em casa tínhamos adeptos. Mas também podemos olhar para o outro lado. Nós eliminámos o Auxerre, o Lille e o Brest e não foi nenhuma vez em Dunkerque.

Notícias ao Minuto Luís Castro leva 19 jogos em 31 encontros esta temporada© USL Dunkerque  

Tem sentido essa onda de apoio nas ruas? Os adeptos olham para sim como uma espécie de ídolo por todo este crescimento num curto espaço de tempo?

Neste momento sim, sinto-me como um ídolo. Quando saio à rua... No fim do jogo, às vezes cantam o meu nome. Sinto, neste momento, que sou muito bem visto na cidade e no clube. Mesmo no futebol francês, fora dos adeptos de Dunkerque, também existe muita gente que elogia a nossa forma de trabalhar, a forma como a equipa joga, aquilo que estamos a alcançar. O meu principal objetivo era entrar num destes cinco países, pensando que era capaz de demonstrar o meu trabalho e aquilo que mais gosto de fazer. Penso que neste momento já foi alcançado.

Botafogo? Se as oportunidades têm aparecido, e se tem aparecido interesse de outros clubes, é pelo trabalho que eu faço

E nem o propalado interesse de há umas semanas do Botafogo o fez tremer?

Nunca confirmei isso, foi uma notícia que saiu. Eu não gosto de falar sobre oportunidades em específico. Com a época passada que fizemos e com a época que vamos fazer este ano, é normal que exista interesse em jogadores de Dunkerque, no treinador de Dunkerque e em muita gente de ramos que trabalham em Dunkerque. Eu concentro-me naquilo que é o meu presente, naquilo que é o momento e que é o trabalho no clube. Se algum dia alguma coisa tiver de acontecer... Mas o meu foco é 100% no dia-a-dia e existem outras pessoas que trabalham comigo para tratar desses assuntos.

Eu não me desfoco muito daquilo que é o meu trabalho. Se as oportunidades têm aparecido, e se tem aparecido interesse de outros clubes, é pelo trabalho que eu faço. No dia que eu me descuidar daí, o mais provável é ser despedido porque não estou a trabalhar bem. Eu não vou falar sobre o caso específico do Botafogo, nem sobre outro caso específico. Não quero falar sobre casos específicos, mas é natural que existam oportunidades, que existam interesses não só no Luís Castro, mas em várias pessoas do clube.

Leia Também: "Não vejo o Benfica com capacidade para comprar jogadores por 80 milhões"

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