Artur Jorge radiante com o Botafogo: "Senti-me um ídolo desde início"

Treinador português recordou a gloriosa passagem pelo Botafogo, em entrevista ao Desporto ao Minuto, detalhando a forma como foi recebido e tratado no Brasil, onde se destacou com a conquista do Brasileirão e da Taça Libertadores.

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Miguel Simões
20/03/2025 07:01 ‧ há 10 horas por Miguel Simões

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Já depois dos registos históricos alcançados no Sporting de Braga, Artur Jorge aceitou rumar ao Botafogo, há, sensivelmente, um ano, destacando-se com uma dupla conquista inédita (Taça Libertadores e Brasileirão) para a história do clube brasileiro... em apenas uma semana.

 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o treinador de 53 anos, que se encontra no Al-Rayyan desde o passado mês de janeiro, explicou a "condição inegociável" de levar os seus quatro adjuntos para o Rio de Janeiro, para além de detalhar a forma como o seu plantel viveu a importância das derradeiras decisões na reta final de 2024.

Ainda antes de arrecadar os dois troféus mais desejados pelo Botafogo, Artur Jorge confessou que já se sentia como um ídolo, garantindo que nunca foi olhado de lado no futebol brasileiro por ser um treinador português, altura em que, ainda, apontou as principais diferenças entre a I Liga e o Brasileirão.

Nunca tive uma massa adepta como aquela que tive no Botafogo. Ajudaram-nos a fazer o que nós queríamos fazer, num caminho longo, difícil e de grandes dificuldadesO Botafogo vinha de uma época em que ainda pairava a desilusão pela fuga do campeonato. Sentiram alguma pressão, fosse pela direção ou pelos adeptos, em corrigir os erros do ano anterior e devolver a glória ao clube?

Não. Nem era minha obrigação, nem eu aceitaria qualquer tipo de pressão nesse sentido. Aquilo que existia como pressão era a vontade de ganhar, eu, os adeptos, a equipa, a equipa técnica, no fundo, uma estrutura. Essa foi a pressão que existiu, desde o primeiro dia, mas sem nunca ter como comparativo anos anteriores ou o que quer que fosse. Preparámos um projeto para podermos ser competitivos e lutar por títulos, tal como queríamos.

Impôs ao Botafogo que só aceitaria rumar ao Brasil se levasse consigo os adjuntos Franclim Carvalho, André Cunha, João Cardoso e Tiago Lopes?

A minha equipa técnica já me acompanha há alguns anos. Portanto, valorizámos ainda mais este nosso crescimento, porque passámos por todos estes momentos juntos. Nós tivemos a oportunidade de trabalhar juntos, na formação do Sporting Braga. A nossa realidade atual é incomparavelmente melhor do que aquilo que era há uns anos atrás, a todos os níveis. Quando essa possibilidade do Botafogo surgiu, era uma condição inegociável levar os quatro elementos. São quatro homens que eu considero muitíssimo competentes. Ajudamo-nos muito enquanto equipa técnica, trabalhamos de olhos fechados e conhecemos o perfil e as características de cada um. Temos, também, missões e momentos diferentes dentro daquilo que é o trabalho de uma equipa técnica, que já sabemos de cor, onde as coisas funcionam de uma forma muito estruturada e organizada.

Apesar de um arranque tremido, o Botafogo foi crescendo a olhos vistos. Como geriu as expectativas no balneário naquela reta final empolgante para que não houvesse um novo 'fantasma', um novo tombo…?

De forma nenhuma isso passava pela nossa cabeça. O [sucesso no] Botafogo explica-se por termos um processo de imposição da metodologia, de termos a felicidade de contar com um grupo de trabalho extraordinário, assim como um grupo de pessoas competentíssimas e de grande paixão por aquilo que faziam na estrutura. Tivemos uma massa adepta incrível, do melhor que já tive.  Nunca tive uma massa adepta como aquela que eu tive no Botafogo. Ajudaram-nos a fazer o que queríamos fazer, num caminho longo, difícil e de grandes dificuldades, mas em que fizemos de tudo para podermos ser os melhores. Tivemos cinco derrotas durante a temporada, acabámos campeões do Brasil e ainda da América do Sul, com a conquista da Taça Libertadores. Um ano extraordinário e memorável, em que ficamos na história do clube pelos feitos alcançados, algo que será, seguramente, será muito difícil repetir. Para hoje e sempre, fica aquela que foi a nossa equipa técnica, portuguesa, capaz de conquistar aqueles dois títulos em simultâneo para o Botafogo. 

Notícias ao Minuto Equipa técnica de Artur Jorge exibiu os dois troféus durante a festa do Brasileirão.© Getty Images  

Na final da Taça Libertadores, depararam-se com a expulsão do Gregore, logo aos 30 segundos. Sentiram que algo ia ruir num momento tão crucial da época e da história do clube ou confiaram no processo e encararam aquela contrariedade como uma certeza de que iam ser felizes?

Naquele primeiro momento, eu confesso que pensámos que podíamos estar a deitar tudo a perder, depois de tanto trabalho que tivemos de Libertadores, mas veio ao de cima alguma serenidade da nossa parte para poder tomar decisões e avaliar o momento. Veio ao de cima a mais-valia do caráter de uma equipa e de um grupo de jogadores fora de série. Com muito mérito, numa final épica, conseguimos o que estava à nossa espera. Como um dos meus jogadores disse, nós estivemos na terra prometida e só de lá podíamos voltar com o troféu. De facto, mesmo perante todas as dificuldades e contrariedades, conseguimos ser sempre superiores a tudo aquilo que foram obstáculos para nós.

Seguiu-se a última jornada do Brasileirão, uma semana depois, sendo que já não havia dúvidas que, acontecesse o que acontecesse, o Artur e a sua equipa técnica já estavam na história do Botafogo. Qual foi a sensação de virar um ídolo no Brasil com aquela dupla conquista?

Foi extraordinário. Aliás, eu senti isso desde o início. Sempre fui muitíssimo bem tratado e continuo a ser. É, para mim, muito gratificante. É o retorno, se quisermos, daquilo que eu dei [ao clube]. Dei toda a minha paixão, todo o meu trabalho, todo o meu conhecimento e toda a minha ambição para que o Botafogo pudesse atingir o sucesso, com a retribuição dos adeptos. É, no fundo, o reconhecimento de que aquilo que eu dei foi bem recebido e era aquilo que eu podia dar. 

Há alguma curiosidade ou peripécia que destaque aquando da sua passagem pelo futebol no Brasil?

Estamos a falar de um grupo de homens que jogava praticamente sempre de três em três dias. Tivemos momentos em que tivemos de nos sacrificar muito, em termos de estar com a família, sendo que, entre os jogos, chegámos a fazer alguns churrascos no nosso centro de treinos. Éramos capazes de ficar lá desde as 7 horas da manhã, quando chegávamos para a treinar, até às 19 horas. Sentíamo-nos bem uns com os outros. Era uma convivência muito agradável, onde conseguíamos ser um grupo de amigos. Conseguimos ser uma família, algo que se manifestou como importante para aquilo que foi o desfecho final.

Nunca me vi numa situação desconfortável ou em que fosse visto de forma a que me sentisse inferiorizado.

É público que o Artur e a sua equipa técnica foram recebendo propostas na reta final da época. Isso não atrapalhou o vosso foco?

Não, de forma nenhuma. O nosso foco foi sempre encerrar ciclos, chegar e lutar por aquilo que eram os nossos objetivos. Isso não afetou em nada. Foi uma temporada extraordinária e é isso que deve ser destacado, nada mais do que isso.

Considerou alguma vez que o treinador português tende a ser olhado de lado no futebol brasileiro?

Nunca senti, honestamente. Fui sempre muito bem tratado por parte de vários colegas brasileiro, muito respeitado por parte da imprensa e dos adeptos. Nem falo só dos adeptos do Botafogo. Falo de todos. Vivia no Rio de Janeiro e tive contacto com muitos adeptos de Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama. Nunca me vi numa situação desconfortável ou em que fosse visto de forma a que me sentisse inferiorizado. Nunca tive tal sentimento.

Quais as principais diferenças entre o futebol português e o brasileiro?

Eu gosto muito mais do futebol brasileiro, sinceramente. Gostei muito da competitividade no campeonato e gostei muito da paixão vivida em todos os estádios em que joguei. Gostei, acima de tudo, daquela dificuldade do sem número de jogos com equipas muito próximas em termos de qualidade individual e coletiva, num campeonato muito difícil, atendendo ao número de jogos que existe, bem como da qualidade das equipas que se defrontam. Há muitos jogos equilibrados e onde é difícil ter destaque ou chegar à frente. Adorei sentir exatamente tudo isso. Aquela competitividade e paixão que senti pelo jogo e pelo futebol e si. São as grandes características que eu mais transporto e que mais gosto de sentir enquanto profissional de futebol.

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