Artur Jorge é um nome incontornável no panorama do futebol nacional e internacional, não só por aquilo que alcançou nos tempos do Sporting de Braga, como pela recente dupla conquista no Botafogo. Tudo junto, rapidamente colocou-o no topo dos topos entre os treinadores mais cobiçados, algo que foi debatido, em entrevista ao Desporto ao Minuto.
Antes de chegar à liderança de uma equipa, o atual técnico do Al-Rayyan iniciou o seu percurso no mundo do futebol como futebolista, na década de 80, e dedicou praticamente toda a sua carreira ao clube arsenalista, onde viria a cimentar o seu nome já como treinador, ao longo dos últimos anos.
Para além de ter assumido os mais diversos escalões de formação do Sporting de Braga, Artur Jorge treinou, ainda, Famalicão, Tirsense e Limianos, em divisões inferiores, até que a sua primeira oportunidade na equipa principal surgiu na reta final da época 2019/20... com direito a um terceiro lugar.
A convite do presidente António Salvador, o treinador de 53 anos repetiu a proeza quando foi o escolhido para treinar, novamente, a formação principal, em 2022/23, desta vez, com o acesso à Liga dos Campeões. Quebrados vários recordes, Artur Jorge deixou o seu clube de coração há, sensivelmente, um ano, rumo ao Brasil, para criar uma das histórias mais bonitas do Botafogo.
Concentrado no campeonato do Qatar, o já experiente técnico português confessa que o regresso ao futebol europeu está nos seus planos, admitindo, ainda, voltar ao Brasileirão, tendo apontado a conquista do campeonato português como um troféu que sonha erguer.
Sporting de Braga? Diria que é mais do que uma segunda casa. Provavelmente, até é a minha primeira casa. Foi onde eu passei mais tempo da minha vida.Nasceu em Braga e dedicou quase toda a carreira de futebolista ao Sporting de Braga, sendo mesmo o 11.º jogador da história com mais jogos (265). Por que motivo?
A minha forte ligação ao Sporting Braga tem uma razão muito simples. Sou adepto do Sporting Braga desde que nasci. Antes de ser atleta, ainda muito jovem, com 12 anos, quando entrei para o Sporting Braga, fui desde muito novo acompanhando os meus pais aos jogos do Sporting Braga. Diria que é mais do que uma segunda casa. Provavelmente, até é a minha primeira casa. Foi onde eu passei mais tempo da minha vida. E claro está que essa paixão pelo clube me fez dedicar tudo aquilo que foi o meu tempo, o meu empenho, a minha disponibilidade e a minha competência desde muito novo. Onde os objetivos por mim traçados, desde muito cedo, foram conseguidos e atingidos, desde o facto de jogar na formação até sonhar em fazer parte da equipa principal, de ser capitão da equipa principal e, posteriormente, de poder treinar a equipa principal tendo, também, feito alguma passagem por escalões de formação. Portanto, é de uma ligação que tem muito a ver com aquilo que é paixão e dedicação.
No entanto, terminou a carreira no Penafiel (2004/05), onde só fez um jogo. Por que razão não pendurou as chuteiras em Braga?
Foi uma tomada de decisão, numa altura em que eu tinha terminado o meu contrato com o Sporting Braga e também aquilo que era, para mim, o ciclo do Sporting Braga. Eu entendi que tinha ainda condições de poder continuar a contribuir. O Penafiel estava na I Liga e eu quis agarrar o projeto que me propôs, mas de curta duração, porque, infelizmente, tive novamente uma lesão e decidi, ao fim de alguns meses, terminar essa minha carreira, também muito forçado por isso mesmo.
Chegou à seleção nacional de sub-21, mas acabou por não alinhar pela principal. Foi um sonho que ficou por concretizar?
Não. Temos de ter, acima de tudo, uma gestão de expetativas que seja muito realista e capaz de nos acompanhar no nosso dia a dia. Para mim, o facto de ter feito parte de uma seleção de sub-21 foi um marco muito importante mesmo, tendo feito toda a minha carreira no Sporting Braga. Eram outras épocas, em que a representação da seleção nacional passava muito por aquilo por Benfica, FC Porto, Sporting e pouco mais. Não tenho mágoa nenhuma em relação a isso.
Contas feitas, Artur Jorge esteve quase 30 anos ligado ao Sporting de Braga.© Getty Images
O Artur tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas também tinha o de ser treinador, quando deixou de jogar futebol com 33 anos?
Não. A ideia de futebolista vinha desde muito novo, desde quando jogava futebol na minha rua e no meu bairro, sendo que o facto de ver o Braga a jogar todos os fins de semana fazia-me sonhar com essa possibilidade. Há uns anos, naquilo que era a minha geração, as coisas foram acontecendo gradualmente e de uma forma muito natural. Ser treinador foi uma perspectiva que, durante a minha carreira de futebolista, fui desconsiderando, não deixando também de me preparar para essa possibilidade, com cursos necessários para isso. A aprendizagem mais valiosa de todas é a prática de poder estar tantos anos num balneário, estar também muitos anos a liderar um balneário como capitão de equipa e ter tantos anos de futebol. Já mesmo muito perto do final da minha carreira, comecei a considerar isso como possibilidade de continuar ligado ao futebol e, sobretudo, à competição. Um dos fatores que mais me move é a competitividade, que continuo ainda a manter e que me alicia diariamente para poder trabalhar todos os dias.
Começou a carreira de técnico, com 37 anos, no Famalicão, em 2009, mas rapidamente rumou às camadas jovens do Sporting de Braga. A mudança aconteceu a convite de António Salvador?
Sim, foi. De facto, eu tive essa oportunidade, através de uma pessoa amiga, que na altura me faz o convite para ter a minha primeira experiência no Famalicão. Entrei a meio da temporada para fazer a reta final e, só depois disso, regressei ao Sporting de Braga para treinar os sub-19. Foi um regresso a casa dentro daquilo que era o meu início de carreira, com ambição e dedicação. Aos poucos, fui progredindo nessa mesma carreira, de forma a poder chegar onde cheguei atualmente.
Depois de duas épocas nos juniores, o Artur saiu do clube na terceira temporada, sem qualquer vitória na equipa B. Foi apanhado de surpresa ou saiu pelo próprio pé?
O contexto, à distância, é mais fácil de explicar. Estamos a falar de uma temporada em que as equipas B entraram diretamente para a II Liga, uma prova que tem uma competitividade em Portugal muito grande e onde todas as equipas B, nessa altura, passaram dificuldades. Era um ano de adaptação e de formação de uma equipa ao recrutar ou ao resgatar jogadores que tinham passado pela formação do Sporting Braga. No fundo, era um processo que tinha alguma complexidade, para além daquilo que era a competitividade, que se veio a notar nessa altura ser o fator principal para o tempo que deveria existir para um início de projeto. Não houve tempo algum, não houve paciência e não se soube olhar para o projeto da forma que eu entendo que devia ter sido. Isso [saída] acabou por acontecer, mas de uma forma perfeitamente pacífica, sem qualquer mágoa do que quer que seja. Foi apenas e só mais uma etapa de um processo que se foi fazendo.
Pausa na carreira? Estava preparado para poder não fazer parte do mundo do futebol...Entre a passagem pelo Tirsense (2013/14) e o Limianos (2016/17), o Artur Jorge esteve algum tempo parado. Houve algum motivo especial?
Por opção, de forma a recalcular a rota outra vez, para perceber se, de facto, aquele poderia ser ou seria o caminho a seguir. Estamos a falar de um início. Há também uma vida pessoal, paralela, que me obrigou a repensar, naquela altura, até ter uma segunda vida, vamos chamar assim, para tentar um arranque definitivo ,como se veio a confirmar. Caso contrário, estava preparado para poder não fazer parte do mundo do futebol...
Não deixa de ser curioso que foi aí que regressou ao Sporting de Braga, onde esteve até há sensivelmente um ano, passando pelos iniciados, novamente pelos juniores e ainda foi desafiado a assumir a equipa principal de forma interina, em 2019/20. Conquistar aquele terceiro lugar, nos últimos cinco jogos, significou o quê para si na forma como passou a idealizar o seu futuro desde então?
Sem dúvida que esse foi o ponto. Foi a alavancagem. Não é por acaso que acontece um ressurgimento novamente no Sporting de Braga. Houve um pequeno ciclo que fechou sem grande sucesso, até que, depois houve uma segunda vida para poder, desde baixo, com tempo, trabalho e outra maturidade, fazer as coisas da melhor forma. Isso foi feito nos escalões de formação, nos sub-15 e depois no sub-19, onde depois surgiu uma oportunidade num contexto muito difícil. Tínhamos, creio eu, 5 pontos de diferença para o terceiro lugar [Sporting] e, nos últimos cinco jogo, conseguimos três vitórias, um empate e uma derrota, com resultados suficientes para poder, quando já ninguém esperaria, colocar o Sporting Braga no terceiro lugar. Foi muito importante para mim, num teste de competência e num teste de confiança também por parte do Sporting Braga, como foi dado na altura pelo presidente António Salvador. Eu sabia que, mais tarde ou mais cedo, ele voltaria a essa aposta. Fui para os sub-23 e para a equipa B, mas eu sabia que era apenas uma questão de tempo e de consistência, para aquilo que era o meu grande sonho quando me iniciei como treinador de futebol.
Já com o nome mais projetado no panorama do futebol nacional, e sabendo que tinha o mesmo nome do lendário treinador (já falecido) Artur Jorge, começou a olhar para isso como uma fonte de inspiração? Desde essa altura começou a ouvir bons presságios por ter o mesmo nome que o lendário e já falecido Artur Jorge?
Mais do que inspiração, muito sinceramente, é todo o respeito que tenho por um excelente treinador. Um homem que foi um vencedor em contextos e gerações diferentes, com grandes dificuldades de comparação. Há essa curiosidade de termos o nome igual e tenho respeito por todo o trabalho marcante, não só no futebol português, mas também no futebol internacional. Como treinador português tenho essa referência, que me deixa muito orgulhoso.
Equipa principal? Estava obsessivamente a preparar-me para que, quando esse dia chegasse, eu estivesse capaz de corresponderNão sei se é adepto da teoria de que, por vezes, é necessário dar um passo atrás para dar dois à frente, mas o que é certo é que o Artur regressou à formação durante mais dois anos (sub-23 e equipa B), até que o trabalho de sucesso o guiou a uma oportunidade na equipa principal no arranque da época 2022/23. Como olhou para esse voto de confiança de António Salvador?
Era uma situação que, desde a altura em que estive como interino, aguardava. Estava obsessivamente a preparar-me para que, quando esse dia chegasse, eu estivesse capaz de corresponder. Digo isto porque é muito difícil chegar ao patamar mais alto, mas sobretudo há que estar preparado para poder corresponder quando essa oportunidade chegar. Tive o tempo para me preparar, mostrar consistência e trabalho em campeonatos competitivos como era o dos sub-23 [Liga Revelação] e o da equipa B [Liga 3], para que depois pudesse estar mais capacitado para agarrar o projeto do Sporting Braga. É um clube que, atualmente, luta pelos lugares de cima da tabela, que se procura afirmar e que tem já uma grande exigência em termos de resultados. Dentro de um projeto de muito sucesso, foram quase duas temporadas em que alcançámos registos e números muito interessantes, ao nível daquilo que foi do melhor que se fez no Sporting Braga em termos históricos.
Na primeira época registou 35 vitórias em 53 jogos, conseguiu um novo terceiro lugar e o consequente regresso à Liga dos Campeões. Com vários recordes quebrados nessa altura, o seu nome começou a ser altamente cobiçado no mercado por outros clubes. Não se sentiu tentado em sair no verão seguinte?
Não, não, de todo, por duas razões principais. Uma delas era a minha gratidão pelo Sporting Braga pela oportunidade de estar a treinar o meu clube de coração. Isso era algo que fazia com que eu tivesse uma meta muito particular: ganhar um título com o Sporting Braga. Queria muito. Era um ponto pessoal, mas de grande ideia para lá chegar. A segunda razão era a perspectiva de poder jogar a Liga dos Campeões pelo clube, sendo que na altura ainda fizemos o playoff. Eu não poderia querer um projeto melhor para poder dar continuidade ao meu trabalho. Essas foram as principais razões que não me fizeram sequer considerar ou ouvir qualquer tipo de outro projeto. Só aquilo me interessava.
Os jogos do Sporting de Braga contra Benfica, FC Porto e Sporting geram cada vez mais entusiasmo, mas explique-nos, como adepto do Sporting de Braga, qual é a envolvência dos dérbis do Minho frente ao Vitória.
São enormíssimos. São, provavelmente, até em termos emocionais e em termos de impacto, dependendo do contexto, mais fortes do que jogar com o Benfica, o FC Porto ou o Sporting. É uma rivalidade histórica que se sente em cada um dos clubes e, portanto, é natural que haja esse caráter de dérbi onde aquilo que é a classificação ou o momento de forma pouco interessa para aquilo que se põe em jogo. São normalmente jogos muito bem disputados, muito intensos e muito aguerridos. São jogos que eu particularmente gostei de jogar, gostei também de dirigir ou treinar. Têm, de facto, um peso que faz com que seja um jogo diferente para cada um dos lados.
Antes da despedida de Braga, Artur Jorge cumpriu o seu desejo: conquistar um troféu pelo clube do coração.© SC Braga
Acabou por conquistar o primeiro troféu da carreira, a Taça da Liga (2024), antes de sair para o Botafogo, a dois meses do fecho da época passada. Sentiu-se incompreendido ao tomar essa decisão?
Não senti nada. Quem percebe, percebe. Quem não percebe, não percebe também. Houve ali uma oportunidade de carreira, uma oportunidade de projeto. Fui, enquanto treinador do Sporting de Braga, um treinador que conseguiu registos históricos e de referência. Conquistámos um troféu. Tudo aconteceu com um excelente aproveitamento do ponto de vista desportivo, mas também do ponto de vista financeiro, já que fomos uma equipa técnica que foi vendida, a dois meses do fim do campeonato para um novo projeto. Foi muito gratificante poder ter contribuído para o Sporting Braga, desportivamente, mas também financeiramente porque o clube teve retorno com a nossa saída. O Botafogo pagou para que nós pudéssemos sair na altura em que apresentou o projeto que tinha para nós.
O Artur vinca que equipa técnica foi vendida, mas António Salvador, presidente do Sporting de Braga, considera que saíram à revelia do clube. O que é que tem a dizer sobre isto?
Não tenho nada [a dizer]. Não tenho e não quero entrar em polémicas algumas. Estou a olhar para a verdade os factos e, portanto, não tenho nenhum interesse em comentar o que quer que seja em relação a isso.
O Ricardo Horta chegou a estar perto de sair, quando ainda era treinador do Sporting de Braga. Como geriu a polémica situação no balneário?
Não é só o caso do Ricardo Horta. Eu diria que são muitos os casos durante uma época desportiva, onde a gestão de expectativas é sempre muito importante, complementado com aquilo que é o trabalho da nossa equipa técnica. Para além daquilo que é o ponto de vista físico, nós podemos olhar para o aspecto mental do atleta, em relação à sua gestão de expectativas. Eu venho de uma outra geração, agora há outra. Há uma rotina diária, mas acabamos, por vezes, por inverter as coisas. Há a capacidade de gerir o homem também, para além do futebolista. Há o jogador que pensa que merece jogar, há o que acha que está a jogar e que não está a cumprir, há o que joga pouco ou aquele que só entra. Há aquele que não entra e que não joga, há aquele que quer sair porque tem possibilidades para sair, há aquele que não quer sair, mas que o clube quer que ele saia. Há muita coisa envolvida, como fazer um determinado número de jogos ou terminar o campeonato com uma certa classificação. Há muita coisa que nós, enquanto treinadores, temos também de trabalhar, de acompanhar e de estar preparados para poder fazer parte deste processo. É algo que faz parte da gestão de um grupo e de uma equipa de futebol profissional.
Como avalia a saída do Bruma para o Benfica?
Houve uma oportunidade. Curiosamente, falei com o Bruma nessa altura para poder dar-lhe os parabéns. É um passo em frente na carreira dele. Nós, como equipa técnica que já esteve no Sporting de Braga, fomos os grandes responsáveis por ele estar no futebol português. Fomos nós que o resgatámos da Turquia, onde estava num processo difícil para ele e, como treinador que o indicou, falámos com ele para lhe explicar o projeto que tínhamos. Foi à seleção nacional e agora é vendido ao Benfica. Em caso de sucesso, fico sempre contente. É um jogador que teve o seu momento para voltar ao futebol português e acabou vendido a uma equipa como o Benfica.
Benfica, FC Porto ou Sporting seriam os três clubes que, nesta altura, fariam pensar voltar a Portugal.Pensa regressar ao futebol europeu em breve?
Eu tenho esse plano. Tenho essa meta, mas, nesta altura, a minha dedicação e o meu foco é este. As coisas têm acontecido sempre de uma forma muito dentro do plano, mas acima de tudo é quando têm de acontecer, sem projetar para daqui a dois ou três anos. Nesta altura, o meu foco é fazer o meu trabalho aqui até ao final de contrato. Estou muito satisfeito, estou muito feliz de aqui estar e gosto muito de trabalhar aqui. É nesse sentido que eu me vejo no futuro imediato, cumprindo o meu contrato de trabalho e podendo sentir que estou a ajudar na evolução, a todos os níveis, para o futebol no Qatar.
Imagina-se a regressar à I Liga?
Provavelmente, sim. Vejo-me até a voltar, em primeiro, ao campeonato brasileiro. Tudo isto são metas que terei, sem ter necessariamente de falar de um regresso à I Liga, mas sim voltar a campeonatos europeus ou ao Brasileirão. São momentos que eu acredito que voltarei a passar.
O ciclo no Sporting de Braga poderá ser retomado?
Ao dia de hoje, dentro daquilo que falei em voltar ao campeonato português, podia pensar em clubes que não o Sporting Braga. Já o disse. Benfica, FC Porto ou Sporting seriam os três clubes que, nesta altura, fariam pensar voltar a Portugal, terminado o meu contrato cá [no Al-Rayyan].
O interesse recente do Sporting e do FC Porto foi uma realidade?
O meu interesse [risos] é falar e estar no Al-Rayyan, fazer um bom trabalho aqui. Têm muitas expectativas comigo e eu quero corresponder. Isso não é relevante nesta altura.
Treinador de 53 anos mostrou-se rendido a Marlon Freitas, aquando da sua passagem pelo Botafogo.© Getty Images
Que referências é que tem como treinadores?
Em termos daquilo que é personalidade e caráter, como sendo aquele primeiro treinador que marcou a diferença e nos abriu muitas portas, é José Mourinho, sem dúvida nenhuma. Sobre a forma de jogar, dentro do meu conceito de futebol, vou buscar uma referência antiga em Johan Cruyff e, mais recentemente, a [Jurgen] Klopp. São treinadores que me inspiram na forma como veem toda uma dinâmica de um jogo, pelo qual também tenho essa paixão e ideologia.
Qual foi o melhor jogador que treinou?
É difícil, mas o melhor jogador, para mim, é um conjunto de valores. O Marlon Freitas, do Botafogo, é provavelmente aquele que representa tudo aquilo que eu admiro muito num futebolista. Sei que não é o jogador mais dotado ou refinado, mas há um conjunto de valências que eu identifico no Marlon.
Tem um filho com o seu nome, que orientou na formação do Sporting de Braga e se encontra atualmente no Farense. Quer que ele siga os seus passos como treinador?
Não tenho muito de querer, mas acho que o Artur tem valores e uma capacidade nata para ser um bom líder. Para além dessa liderança, tem também um olhar muito detalhista sobre o jogo o sobre aquilo que faz. Ele não é um jogador que joga apenas por jogar ou porque lhe dão alguma missão. Desde sempre fui sentindo isso e, nas muitas conversas que temos sobre futebol, ele gosta de saber os porquês. São princípios muito relevantes para, se eventualmente ele o entender, poder seguir nesta mesma linha de se tornar também um treinador de futebol.
Seleção? Nunca pensei nisso de uma forma muito aprofundada. Não sei se isso algum dia chegará.Aos 53 anos, que sonho de carreira tem por realizar?
Devo-lhe dizer que não tenho meta alguma por realizar. Tenho tido o cuidado de ir em busca daquilo que estava próximo de mim. Haverá obviamente objetivos que eu tenho e que prefiro guardá-los, dado que posso ou não lá chegar, mas estou muito satisfeito com aquilo que consegui. Sinto-me abençoado por isso mesmo porque tenho tido muita felicidade na carreira que escolhi.
Nunca pensou em treinar a seleção nacional?
Não, de todo.
Prefere a dinâmica de uma equipa ou de uma seleção?
Não digo que prefira, mas nesta altura é aquilo que mais me entusiasma. É poder ter e estar numa dinâmica de clube para poder ter todos os dias a rotina do trabalho e poder viver o clube de uma forma diferente de uma seleção. Mas nunca pensei nisso de uma forma muito aprofundada. Não sei se isso algum dia chegará.
Já depois de conquistar a Libertadores e o Brasileirão em apenas uma semana, há algum troféu de sonho que gostaria de erguer?
Gostava de ser campeão nacional português, honestamente. Gostava muito sinceramente. Sporting de Braga? Nesta altura são perguntas diferentes com respostas diferentes também.
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