Manuel Pureza estreia 'Os Infanticidas', sobre as dores de crescimento

O realizador Manuel Pureza estreia na quinta-feira um filme sobre "perder a juventude a favor do jogo da idade adulta" enquanto se prepara para rodar uma nova série televisiva, com a mesma equipa de 'Pôr do Sol'.

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© Frank Molter/picture alliance via Getty Images

Lusa
11/03/2025 09:16 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Cinema

'Os Infanticidas' é uma adaptação de um texto de Luís Lobão, levado à cena em 2017 no Teatro da Comuna, em Lisboa, e tanto a peça como o filme partilham o mesmo quarteto de elenco: Anna Leppänen, Luís Lobão, Joana Campelo e João Vicente.

 

Dois amigos de longa data, designados Verde (João Vicente) e Vermelho (Luís Lobão), discutem sobre as dores de crescimento, a responsabilidade e o compromisso da chegada à vida adulta, um mais inconformado com a mudança, outro mais apaziguado com essa inevitabilidade.

Há ainda a personagem Branco (Anna Leppänen), namorada de Verde, e Ela (Joana Campelo), que representa todas as namoradas de Vermelho.

"Pessoalmente, [interessa-me] tudo o que for pensar sobre a questão do crescer. Crescer é comprometer-se, o crescer é encontrar compromisso, responsabilidade, etc. E isso teve um eco em mim bastante grande. É sobre a amizade, perder amigos, perder a juventude a favor do jogo da idade adulta. Porque, no fundo, continuamos a ser um bando de crianças perdidas à procura de sentido nisto tudo", afirmou Manuel Pureza à agência Lusa.

Para o realizador, o sentido do filme "tem a ver com esse espanto dos olhos das crianças". "Infelizmente vamos perdendo ao longo da vida, porque temos contas para pagar, discussões para ter, orçamentos para aprovar, porque o trabalho assim o diz, a sociedade assim o diz".

No filme, as reflexões entre os dois amigos surgem numa sucessão de segmentos, em cenários e situações distintas, aparentemente desconexas da narrativa, num campo de ténis, num café, numa partida de xadrez ou dentro de um programa televisivo.

"A minha ideia era, sobretudo, fazer uma experiência e fazer com que as imagens avançassem ao sabor da palavra, a palavra é muito importante. O que está a ser dito, independentemente do que está a ser visto, entra em concordância ou dissonância com as imagens e com os quadros que nós idealizamos para cada um dos momentos do texto", explicou Manuel Pureza.

'Os Infanticidas', que o realizador descreve como "um caleidoscópio", é um objeto mais pessoal dentro do percurso profissional no cinema e televisão, e foi feito em 2021 durante a pandemia da covid-19, com apoio do programa Garantir Cultura.

"Juntámo-nos numa equipa pequenina e filmámos em 17 dias. [O filme] é o resultado de consequências financeiras. Foi feito em semi-confinamento, já não estávamos na agressividade da primeira vaga. Foi feito entre temporadas do 'Pôr do Sol' [série televisiva para a RTP]", disse.

'Os Infanticidas' é, na verdade, a primeira longa-metragem de Manuel Pureza fora do universo televisivo no qual tem trabalhado há vários anos de forma regular.

"Este é uma incursão mais pessoal. É difícil definir-me pelos filmes, porque são bastante espaçados no tempo e resultam de desafios que me coloco. Este tem uma visão ligeiramente adolescente sobre a amizade. Estreia agora como uma espécie de intervalo entre as coisas que faço", explicou.

O filme chega agora aos cinemas numa altura em que Manuel Pureza se prepara para filmar uma nova série televisiva para a RTP, com a mesma equipa da série 'Pôr do Sol', argumento de Henrique Dias e estreia prevista para o verão.

"É uma série chamada 'Felp', que é a 'Rua Sésamo' em esteroides. Os bonecos estão fartos de fazer programas infantis, têm contas para pagar, tem aspirações e sonhos e vão revoltar-se contra os humanos", descreveu.

'Os Infanticidas' tem produção da Coyote Vadio, que Manuel Pureza cofundou com Andreia Esteves.

Manuel Pureza realizou, entre outros, a curta-metragem 'A bruxa de Arroios' (2012), as telenovelas 'Rainha das Flores' (2015-2016) e 'Prisioneira' (2019-2020), 'Até que a vida nos separe' (2021) e 'Sempre' 82024), correalizou o filme 'Linhas de Sangue' (2018) com Sérgio Graciano e fez duas temporadas e a longa-metragem do universo da comédia 'Pôr do Sol'.

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