Estas declarações da líder parlamentar da IL, Mariana Leitão, à agência Lusa, juntam-se às críticas do BE e do Livre publicadas esta manhã nas redes sociais.
Em causa está a edição de dezembro da revista da Armada, divulgada hoje, que faz um extenso balanço do mandato do almirante Henrique Gouveia e Melo à frente da Marinha e termina com uma ilustração do chefe militar ao lado de D. João II (nome do navio multifunções do ramo).
Na legenda dessa ilustração lê-se que "se D. João II visse os drones, a Inteligência Artificial e a tecnologia" que a Marinha tem atualmente disponível, "certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante CEMA e AMN sobre os novos desafios e a conquista económica do nosso mar, como o expoente do nosso desenvolvimento".
Em declarações à agência Lusa, a líder parlamentar da IL, Mariana Leitão, considerou que existe "algum aproveitamento para enaltecer a figura do almirante".
"Considerando que já sabemos que ele está de saída e que, muito provavelmente, vai apresentar uma candidatura à Presidência da República, é óbvio que se exige um bocadinho mais de contenção, parece-nos", defendeu.
Mariana Leitão considerou que está em causa a utilização "de meios do Estado para promover" a imagem do almirante Henrique Gouveia e Melo "perante a sociedade", numa "espécie de ode".
"Mesmo que não houvesse estes desenvolvimentos futuros [eventual candidatura à Presidência], já me parece um bocadinho excessivo que o futuro ex-almirante apareça numa publicação da Marinha ao lado do D. João II em todo aquele aparato e todos aqueles desenhos e com aquela referência a que se os dois conversassem iriam, certamente, concordar muito sobre a inovação tecnológica e o futuro e tudo mais", criticou.
"Mas, com a possibilidade dessa situação futura, é, obviamente, bastante despropositado", acrescentou.
Esta edição da revista da Armada tem como mote "Três anos de transformação", uma referência ao mandato do almirante Henrique Gouveia e Melo à frente da chefia da Marinha, que termina no próximo dia 27 de dezembro.
Esta manhã também o líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, e o deputado do Livre Paulo Muacho, criticaram esta publicação nas redes sociais, com o bloquista a defender que "a publicação oficial da Marinha Portuguesa não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha presidencial de Gouveia e Melo".
No final de novembro, o almirante Gouveia e Melo comunicou ao Conselho do Almirantado a sua indisponibilidade para continuar mais dois anos na chefia do Estado-Maior da Armada, terminando o mandato em dezembro, disseram à Lusa fontes militares.
O nome de Henrique Gouveia e Melo tem surgido como um dos potenciais candidatos às eleições presidenciais de janeiro de 2026.
Henrique Gouveia e Melo, que coordenou a equipa responsável pelo plano de vacinação nacional contra a covid-19, tomou posse como chefe do Estado-Maior da Armada em 27 de dezembro de 2021, e está prestes a cumprir os três anos de mandato.
Nos termos da Constituição, compete ao Presidente da República nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armada (CEMGFA) e os chefes dos três ramos militares.