"As primárias do Livre são primárias abertas. (...) Não há outro sistema tão aberto quanto o do Livre. Agora, evidentemente que o partido se protege de possíveis tentativas de manipulação ou de criação de sindicatos de voto", argumentou, à margem de uma visita ao Arquivo Municipal de Lisboa, em Campolide.
Rui Tavares foi questionado sobre as novas regras deste processo interno utilizado pelo Livre para escolher os seus candidatos eleitorais, uma vez que o novo regulamento estabelece que apenas militantes podem votar em eventuais segundas voltas, na sequência da polémica com a escolha de Francisco Paupério para cabeça de lista nas eleições europeias.
"O que é importante é que as regras do jogo sejam conhecidas por todos e respeitadas por todos. Toda a gente pode ser candidata do Livre, mas não vale tudo para ser candidata do Livre, e é nesse equilíbrio que nós tentamos traçar a linha do que devem ser as primárias", argumentou o deputado, que participa novamente neste processo com o objetivo de voltar a integrar a lista do partido ao círculo eleitoral de Lisboa nas legislativas antecipadas de maio.
Interrogado sobre se teme uma nova eventual "tentativa de manipulação", depois de a ter referido, uma vez que Francisco Paupério volta a ser candidato nas primárias do Livre, para integrar a lista por Lisboa, Rui Tavares rejeitou estar a falar de um caso concreto, salientando que o dirigente "defendeu bem as ideias do Livre" nas europeias.
Tavares insistiu que as primárias "têm trazido muitas vozes novas à política", dando como exemplo a atual líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, ou os deputados Jorge Pinto e Paulo Muacho, mas que este é um sistema que carece de uma "melhoria contínua".
"Não é perfeito como nenhum é, mas a verdade é que com o sistema de escolha de candidatos que os outros partidos fazem, aí é que vêm as verdadeiras surpresas. Como é que neste parlamento, que agora vai ser dissolvido, apareceu um alegado ladrão de malas? Não foi por primárias, foi o senhor líder que acha que sabe tudo que o escolheu, a dedo. Como é que na Assembleia Municipal de Lisboa apareceu alguém que alegadamente praticou o crime de prostituição de menores? Não foi por primárias, foi o senhor líder que acha que sabe tudo e no entanto não sabia nada acerca dos seus próprios deputados", criticou, numa referência ao Chega, liderado por André Ventura.
O porta-voz do Livre definiu as primárias como "um processo de debate e de escrutínio que permite elevar a qualidade" dos protagonistas políticos, rejeitando que as novas regras levem a um fechamento do partido.
Qualquer cidadão maior de 16 anos pode inscrever-se para concorrer ou para votar nas primárias do Livre, desde que subscreva um "manifesto público de apoio" ao partido.
Rui Tavares considerou ainda que a campanha para as eleições legislativas antecipadas vai dividir-se entre quem considera normal que "um primeiro-ministro tenha uma empresa, que essa empresa se mantenha na sua esfera familiar, mas com pleno conhecimento por parte do primeiro-ministro acerca de quem é que põe lá dinheiro, quem é que é cliente, quem é que investe, quem é que não investe" e quem discorda desta situação.
"Estas eleições vão ser muito em torno de quem acha que Portugal se deve habituar a que estas coisas sejam normais, ou quem quer um país em que seja normal subir a fasquia, seja normal sermos mais exigentes, mais transparentes e responsáveis", sublinhou.
O Presidente da República anunciou na quinta-feira, numa comunicação ao país, que as eleições legislativas antecipadas vão realizar-se a 18 de maio, na sequência da crise política que levou à demissão do Governo PSD/CDS-PP.
[Notícia atualizada às 13h01]
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