Em dia de votação final global do Orçamento do Estado na Assembleia da República (AR), o Chega violou as regras do Parlamento, que não permitem a colocação de publicidade na fachada, e pendurou nas janelas faixas sobre o fim dos cortes de salários dos políticos. O presidente da AR, José Pedro Aguiar-Branco, classificou o ato como "vandalização política" e "falta de respeito" pelo "património do Estado".
Após um momento de tensão e acesa troca de palavras, o PS pediu a suspensão dos trabalhos enquanto não fossem retiradas as tarjas, mas a Assembleia da República votou contra e a votação do Orçamento do Estado para 2025 prosseguiu.
Ainda assim, Aguiar-Branco avisou o Chega de que, se o partido não retirasse as faixas, os bombeiros acabariam por fazê-lo. O partido não acatou a ordem e, por volta das 11h00 de sexta-feira, os Sapadores Bombeiros de Lisboa confirmavam ao Notícias ao Minuto que estavam a caminho do Parlamento.
Já no local, os bombeiros chegaram a montar uma grua para aceder às janelas e retirar as faixas colocadas na fachada principal do Palácio de São Bento, mas não tiveram de intervir. Quando se aproximaram, as tarjas começaram a ser puxadas por elementos do partido, entre os quais o líder, André Ventura, a partir do interior do edifício.
Um "alerta de forma clara" que pode levar a queixa-crime
O líder do Chega, André Ventura, justificou o protesto contra o fim do corte nos vencimentos dos políticos com o objetivo de alertar de "forma clara para o que se está a passar", mas os restantes partidos condenaram a atitude.
Do lado do Governo, o ministro das Finanças defendeu que se perdeu "demasiado tempo" e acabou por se fazer "o jogo daqueles que usam o Parlamento para os seus ganhos políticos".
Joaquim Miranda Sarmento, considerou, esta sexta-feira, em declarações na SIC Notícias, que "perdemos todos demasiado tempo - e o tempo é o recurso mais escasso que temos - a discutir (...) garotices", ao referir-se às ações do Chega durante a manhã.
"Se todos os partidos decidissem agora ocupar a fachada do Parlamento, na parte das instalações que lhes estão atribuídas, passava a ser uma espécie de 'Benetton' com não sei quantas cores. É essa transfiguração daquele edifício que tem 200 anos de história parlamentar que queremos?", questionou.
O líder do PS, Pedro Nuno Santos, acusou os deputados do Chega de serem um "bando de delinquentes" que trouxe anarquia ao Parlamento, desrespeitando a democracia.
Já o PAN, afirmou que o Chega "não deve ficar inconsequente" e pondera apresentar uma queixa-crime contra o partido de André Ventura, tendo já decidido levar esta questão à reunião da conferência de líderes. A porta-voz do partido, Inês Sousa Real, lembrou que o "estatuto dos deputados prevê, inclusive, a suspensão" nestes casos.
À Direita, o líder da Iniciativa Liberal viu as tarjas na AR como "um ato de vandalismo", "infantilidade" e "falta de respeito" de "quem não respeita o património do país, não respeita a história de Portugal". Rui Rocha chegou mesmo a acusar os 50 deputados do Chega de se comportarem "como uma turma de repetentes".
O Bloco de Esquerda, por sua vez, reagiu nas redes sociais, por intermédio da deputada Joana Mortágua. A bloquista escreveu no X (ex-Twitter) que "depois do numerozinho", o Chega "decidiu gozar com os bombeiros, retirando cada faixa à medida que as escadas de incêndio alcançavam as janelas".
Depois do numerozinho, o Chega decidiu gozar com os bombeiros, retirando cada faixa à medida que as escadas de incêndio alcançavam as janelas. Se houver uma emergência e os recursos dos bombeiros estiverem ocupados nesta brincadeira, Ventura assume a culpa. Ou não?
— Joana Mortágua ️️️ (@JoanaMortagua) November 29, 2024
Do lado de fora da Assembleia da República, os manifestantes da CGTP, que se manifestavam por aumento dos salários, defesa dos serviços públicos e pelo direito à Saúde, Educação e Habitação, também criticaram as tarjas do Chega quando os bombeiros chegaram ao local.
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