O presidente da Junta de Freguesia de Marvila (eleito pelo PS) reconhece, com "surpresa e agrado", que já houve "dias piores sem greve" e que estava "à espera que fosse muito mais complicado".
Acontece que na freguesia, com cerca de 40 mil habitantes, "a situação já é caótica" por norma, assinala José Videira.
"Estamos tão habituados a que os circuitos de recolha falhem...", desabafa, receando, porém, que o cenário piore com o avançar da greve, que vai decorrer até quinta-feira.
Os sindicatos que representam os trabalhadores municipais da higiene urbana decretaram uma greve ao trabalho extraordinário, que incluiu uma paralisação total na quinta-feira e hoje.
O colégio arbitral da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) decretou serviços mínimos, o que fez baixar a adesão, evitando um "pior cenário", segundo o diretor de Higiene Urbana do município de Lisboa.
O impacto "não é visível, até ao momento", relata o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, admitindo que tal se deva aos serviços mínimos e a uma "melhor articulação entre serviços municipais".
Além disso, "a junta empenhou os serviços no que são as suas competências", refere.
Tal como Marvila, Misericórdia (também PS), Lumiar e Belém (ambas PSD/CDS-PP) têm empenhado os seus recursos para tentarem minorar o impacto da paralisação municipal.
A situação está a colocar "alguns desafios" à gestão de recursos, pois "há sempre muito papel e outros resíduos" nesta altura do ano, realça o presidente da Junta de Freguesia do Lumiar.
"Estamos a tentar minimizar o impacto recolhendo os resíduos fora dos contentores, mas não nos podemos substituir à Higiene Urbana da Câmara Municipal [de Lisboa]", nota Ricardo Mexia, reconhecendo que gostava de ter tido "um pouco mais de colaboração" por parte dos fregueses.
A greve tem tido impacto, mas "o dia 26 não foi muito diferente de outros dias 26", compara, admitindo que "hoje já foi mais fora do expectável".
Fernando Ribeiro Rosa acaba de fazer uma ronda pela freguesia de Belém para fazer o ponto de situação.
"Está controlado, o lixo não está muito acumulado", garante o presidente da junta, admitindo que, com o passar do tempo, "será mais difícil".
A junta está a fazer rondas permanentes pelos ecopontos, dado que as pessoas vão pondo o lixo à volta.
"Estamos a fazer o possível para evitar problemas de saúde pública", garante Fernando Ribeiro Rosa, deixando um elogio: "as pessoas estão-se a portar bem".
Também na freguesia da Misericórdia "a população tem colaborado", assevera Carla Madeira.
"A situação é complicada, esta zona tem muito lixo, mas a recolha tem estado a passar, os serviços mínimos da câmara estão a funcionar e os da junta também, a 100%, dentro das suas competências", refere.
Porém, a presidente da junta está "preocupada com o fim de semana e os festejos do final do ano, que têm muito impacto na freguesia", nomeadamente no lixo proveniente dos estabelecimentos comerciais.
Para o Ano Novo está prevista greve ao trabalho normal e suplementar no período noturno, entre as 22:00 do dia 01 (quarta-feira) e as 06:00 do dia 02 de janeiro (quinta-feira).
Os sindicatos justificam a realização da greve com a ausência de respostas do executivo municipal, liderado por Carlos Moedas (PSD), aos problemas que afetam o setor da higiene urbana, em particular o cumprimento do acordo celebrado em 2023.
A Câmara de Lisboa assegura que 13 dos 15 principais pontos do acordo estão a ser cumpridos e que os restantes dois -- obras nas instalações e a abertura de bares em todos os horários e em todas as unidades -- estão em fase de conclusão.
Para minimizar os efeitos do protesto, a autarquia decidiu implementar um conjunto de medidas, nomeadamente criar uma equipa de gestão de crise, disponível 24 horas; distribuir contentores de obra, em várias zonas da cidade, para deposição de lixo; pedir aos cidadãos que não coloquem o lixo na rua, sobretudo papel e cartão; apelar aos grandes produtores que façam a sua recolha durante estes dias; e pedir a colaboração dos municípios vizinhos, com possibilidade de utilização de eco-ilhas móveis.
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