Álvaro Sobrinho, ex-diretor do Banco Espírito Santo Angola (BESA), garantiu, esta quarta-feira, que virá a Portugal para o julgamento do caso BES caso seja notificado. Como já não tem nacionalidade portuguesa, Angola não tem obrigação de extraditar o empresário para Portugal, mesmo que a justiça lusa ordene. No entanto, Sobrinho garante que virá.
"Há 14 anos que vou sempre. Nunca faltei a nenhuma notificação junto da justiça portuguesa, mesmo estando no estrangeiro. Se houver necessidade, eu irei, mas para ir tenho de ter um motivo e ser notificado. Nunca fui notificado para ir a Portugal. Criaram a perceção de que estou fugido e eu não estou fugido de lado nenhum. Não há julgamento marcado", sublinhou Álvaro Sobrinho em entrevista à SIC.
Sobre a polémica do uso indevido da nacionalidade portuguesa, o ex-banqueiro confirmou que esse processo começou há 40 anos, quando fez o pedido de renúncia da nacionalidade portuguesa para poder ter direito a uma bolsa do governo angolano para estudar. Como o processo não ficou concluído na altura, não teve direito à bolsa, mas continuou a usar os documentos portugueses até ao último mês de agosto, quando ficou retido no aeroporto de Lisboa e viu o passaporte ser-lhe apreendido. Até esse dia, Sobrinho diz que acreditava ainda ter duas nacionalidades.
"Quando cheguei ao aeroporto até achei que tivesse a ver com as medidas de coação. Por razões de âmbito pessoal - queria juntar-me e casar com a minha mulher - deixei as coisas andar e fui sempre renovando o Bilhete de Identidade português, que entretanto passou a ser Cartão de Cidadão, ao longo desses anos todos", explicou o antigo diretor do BES Angola.
Antes desta abordagem no aeroporto, em que ficou sem os documentos portugueses, Álvaro Sobrinho garante que "nunca" foi notificado pelo Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) sobre a questão da nacionalidade.
"Fui interpelado no Aeroporto de Lisboa depois de vir de Angola. Aí é que me comunicaram que havia uma notificação do Instituto dos Registos e do Notariado para apreensão do meu Cartão de Cidadão e do passaporte. Dia 11 de agosto as autoridades portuguesas, através da Polícia Judiciária e da Polícia de Segurança Pública, comunicaram-me que tinham ordem para ficar com o meu passaporte português e Cartão de Cidadão", recordou.
O angolano poderá ser notificado pela justiça portuguesa para ser julgado no processo do BESA, em que é acusado de 23 crimes de abuso de confiança e branqueamento de capitais, bem como de ter desviado 400 milhões da sucursal angolana do Banco Espírito Santo (BES).
Advogados sugeridos por Sócrates e conversas com João Lourenço sobre BESA? "Nem pensar"
Questionado sobre se os seus advogados brasileiros, com ligações a José Sócrates, foram indicados pelo ex-primeiro-ministro português, o antigo banqueiro negou e esclareceu que o seu advogado principal é espanhol, "uma pessoa de alta reputação".
"Fez uma entrevista há dois meses para uma cadeia de televisão e, num país democrático, a jornalista foi impedida de passar. Chama-se Javier Borrego. Tendo em conta isso, não há nada a dizer. Nunca fugi a ninguém", garantiu Álvaro Sobrinho.
Negou também a existência de conversas com o presidente angolano, João Lourenço, sobre o caso BESA. "Nem pensar. Porque é que vou falar com o presidente sobre o meu processo? Angola é um país independente", rematou.
[Notícia atualizada às 23h24]
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