Pelo menos 5.230 crianças sofreram ferimentos nos primeiros 11 meses do ano passado que requerem apoio significativo para a sua reabilitação, um serviço que se tornou praticamente inacessível no enclave palestiniano, cenário de uma guerra entre Israel e o Hamas desde outubro de 2023, de acordo com um relatório elaborado por várias organizações humanitárias na Faixa de Gaza, incluindo a Save the Children.
Os ferimentos físicos podem levar à amputação, à perda da visão ou da audição e são agravadas pelo estado precário do sistema de saúde em Gaza, onde a ajuda humanitária não tem chegado devido à ofensiva militar lançada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).
O único centro de reconstrução e reabilitação de membros em Gaza, cujas instalações foram afetadas durante uma incursão militar israelita em fevereiro de 2024, está fora de serviço desde dezembro de 2023 devido à falta de material e de pessoal.
Segundo a ONG, estas estimativas são provavelmente inferiores à realidade e podem "não abranger todas as crianças que ficaram com deficiências auditivas ou visuais em resultado de ferimentos relacionados com a guerra".
O relatório também não inclui as crianças que sofreram "lesões psicológicas potencialmente para toda a vida, em resultado dos incidentes traumáticos que testemunharam ou viveram durante a guerra", sublinhou a organização humanitária.
A cirurgiã Ana Jeelani, que trabalha para a Medical Aid for Palestinians, parceira da Save the Children, alertou que, caso as crianças não sejam tratadas com urgência, a parte do corpo ferida pode deixar de crescer.
"As crianças são obrigadas a ser amputadas porque os ossos não cicatrizam, são membros fixos mas não funcionais devido à gravidade da situação", lamentou Jeelani.
Ghassan Abu-Sittah, um médico que trabalhou no hospital Al Ahli no final de 2023, alertou que "muitos" bebés foram amputados mesmo antes de aprenderem a andar, o que "afetará o seu desenvolvimento".
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023, no qual mais de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 250 foram levadas como reféns para o enclave.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 46.600 mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
Leia Também: Familiares de reféns invadem parlamento israelita contra governo