"A Europa tem de enfrentar de uma vez por todas o desafio da sua segurança num mundo com ameaças crescentes", disse Pedro Sánchez, que referiu em concreto o reforço da indústria e das capacidades de defesa e realçou a existência de carências neste âmbito, sobretudo, em cibersegurança.
Num discurso em Madrid perante os embaixadores de Espanha no mundo, Sánchez considerou que "os alicerces da ordem internacional estão a ser questionados mais do que nunca", especialmente "nestes dias em que se fala sem rodeios de redesenhar fronteiras, de intervir em processos democráticos ou de renomear mapas".
O governante referiu ainda a ameaça à democracia que é a desinformação, o avanço da extrema-direita, em especial, na Europa, e as "eleições 'fake'" com que líderes autoritários se tentam legitimar ou com que ignoram a vontade popular expressa em votos, num momento do discurso em que não disse nomes em concreto.
Sánchez falou aos embaixadores espanhóis dias depois da tomada de posse do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para um novo mandato apesar de o resultado oficial das últimas eleições no país ser contestado pela oposição, que apresentou cópias de atas das mesas de voto, e de não ser reconhecido pela maioria da comunidade internacional, incluindo Espanha.
O líder do Governo espanhol falou também depois de na semana passada o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ter feito declarações polémicas sobre pretensões territoriais em relação à Gronelândia (território autónomo sob tutela da Dinamarca) ou o desejo de renomear o Golfo do México.
Sánchez referiu, porém, o nome de Trump noutra parte do discurso em que elencou prioridades para as relações bilaterais e multilaterais.
"No complexo contexto global e apenas a uns dias da tomada de posse do Presidente Trump, Espanha quer continuar a aprofundar e a afiançar a relação estratégica com os Estados Unidos, um vínculo transatlântico que nos une e em que acredita o Governo de Espanha", afirmou.
"Os Estados Unidos são um aliado imprescindível para fazer frente aos desafios do nosso tempo e para a defesa também do nosso modelo de convivência", acrescentou.
Face ao "momento complexo e incerto" atual, Sánchez defendeu o reforço do multilateralismo, mesmo reconhecendo a necessidade de reformas em algumas das suas estruturas e organismos, "mais Europa" e a defesa "com mais ímpeto e convicção" do direto internacional e da democracia.
Em relação à Europa, apesar de defender o reforço das capacidades e da indústria de defesa, realçou que não é partidário "de uma nova corrida ao armamento", por considerar que há "outras prioridades no mundo" e por não haver qualquer manual que diga que é com o reforço dos arsenais militares que se alcança a paz.
Para Sánchez, a aposta deve estar na diplomacia, na cooperação internacional e no reforço do multilateralismo.
Numa referência à guerra na Ucrânia, o primeiro-ministro espanhol defendeu uma "paz justa e sustentável" e considerou que "o que está em jogo é o futuro de esse país soberano, mas também o futuro da segurança europeia".
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