As chamadas para familiares de prisioneiros de guerra: "A culpa é tua"

Svitlana recebeu uma chamada de um suposto agente ucraniano onde era proposta uma troca. Era um agente russo, que acabou por 'entreter', enquanto Kyiv verificava a localização da ligação. Quando se recursou a trair o país foi ameaçada - mas está é uma história com um final feliz.

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© Dan Bashakov/Global Images Ukraine via Getty Images

Notícias ao Minuto
14/01/2025 12:30 ‧ há 18 horas por Notícias ao Minuto

Mundo

Guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia já dura há quase três anos e, à medida que o tempo vai passando, os problemas adensam-se: não só os ataques com mísseis continuam, mas também o ataque 'à distância' tenta minar o país.

 

Esta terça-feira, a BBC traz a história de Svitlana, uma ucraniana que não vê o marido, médico do exército, há dois anos.

Um dia, Svitlana recebeu uma chamada de um número de telemóvel ucraniano. Alguém que se identificou como Dmitry propôs que esta traísse o seu país, algo que ela garantiu que "era incapaz de fazer".

"Ele disse: 'Podes incendiar um gabinete de alistamento militar, incendiar um veículo militar ou sabotar uma caixa de eletricidade dos Caminhos de Ferro Ucranianos'", recordou a mulher à imprensa britânica, contando que do lado de lá lhe prometeram que o marido teria bons cuidados e que poderiam até entregar-lhe algo que ela quisesse.

Segundo o que explicou, para além destas ações, foi ainda proposto à mulher que revelasse a localização mais próxima de unidades de defesa ucraniana, que mantêm os céus na Ucrânia seguros de ataques russos.

A mulher contactou então as autoridades ucranianas, que já tinham alertado a população para situações destas. Os serviços secretos ucranianos disseram a Svitlana que deveria manter o contacto com este número enquanto estes investigavam a sua origem: e assim ela fez.

Ao telefone, a voz do lado de lá ensinou-a mesmo a fazer cocktails Molotov dizendo-lhe que ela deveria ir até aos caminhos-de-ferro com a arma incendiária e causar estragos. Ainda lhe disseram que deveria garantir que não havia câmaras de segurança, que colocasse o seu telemóvel em 'modo avião' para ser mais difícil de rastrear e para "usar um chapéu, só pelo sim, pelo não", por forma a que fosse mais difícil de identificar.

Mais tarde, as autoridades ucranianas deram-lhe a informação de que o número que a tinha contactado estava a ligar da Rússia e ela então, na chamada seguinte disse que se queria afastar. "Foi aí que as ameaças começaram", recordou a mulher à BBC, dando conta de que do lado de lá lhe diziam: "O teu marido está a ser torturado e a culpa é tua".

À imprensa a mulher reforçou que não queria cometer traição, mas disse que, em certos momentos, ficou muito dividida, na medida em que pensou: "Será que esta pessoa está mesmo com o meu marido?"

Segundo responsáveis ouvidos pela BBC, cerca de metade dos familiares dos prisioneiros de guerra são contactados por agentes russos. Os números não são oficiais, mas, de acordo com o que uma fonte disse à BBC, haverá cerca de oito mil prisioneiros de guerra ucranianos sob controlo de Moscovo.

A BBC conta também que esta foi uma história com um final feliz, já que Dima, o marido, regressou a casa numa troca de prisioneiros há alguns meses. "Chorei muito. Como nunca tinha corado na vida"; recordou Svitlana.

A mulher contou ainda ao marido sobre as chamadas que recebeu, e o marido acabou por questionar, chocado, como é que ela "se tinha aguentado".

Kyiv e Moscovo intensificaram os seus ataques nos últimos meses e querem reforçar as suas posições antes de Donald Trump regressar à Casa Branca, a 20 de janeiro, depois de o presidente eleito dos EUA ter dito que quer acabar com a guerra assim que tomar posse.

A Ucrânia ataca regularmente alvos militares e instalações energéticas na Rússia, em resposta aos ataques do Kremlin que afetam o seu território desde 2022.

Leia Também: 300 soldados norte-coreanos mortos na guerra na Ucrânia

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