A guerra na Ucrânia já dura há quase três anos e, à medida que o tempo vai passando, os problemas adensam-se: não só os ataques com mísseis continuam, mas também o ataque 'à distância' tenta minar o país.
Esta terça-feira, a BBC traz a história de Svitlana, uma ucraniana que não vê o marido, médico do exército, há dois anos.
Um dia, Svitlana recebeu uma chamada de um número de telemóvel ucraniano. Alguém que se identificou como Dmitry propôs que esta traísse o seu país, algo que ela garantiu que "era incapaz de fazer".
"Ele disse: 'Podes incendiar um gabinete de alistamento militar, incendiar um veículo militar ou sabotar uma caixa de eletricidade dos Caminhos de Ferro Ucranianos'", recordou a mulher à imprensa britânica, contando que do lado de lá lhe prometeram que o marido teria bons cuidados e que poderiam até entregar-lhe algo que ela quisesse.
Segundo o que explicou, para além destas ações, foi ainda proposto à mulher que revelasse a localização mais próxima de unidades de defesa ucraniana, que mantêm os céus na Ucrânia seguros de ataques russos.
A mulher contactou então as autoridades ucranianas, que já tinham alertado a população para situações destas. Os serviços secretos ucranianos disseram a Svitlana que deveria manter o contacto com este número enquanto estes investigavam a sua origem: e assim ela fez.
Ao telefone, a voz do lado de lá ensinou-a mesmo a fazer cocktails Molotov dizendo-lhe que ela deveria ir até aos caminhos-de-ferro com a arma incendiária e causar estragos. Ainda lhe disseram que deveria garantir que não havia câmaras de segurança, que colocasse o seu telemóvel em 'modo avião' para ser mais difícil de rastrear e para "usar um chapéu, só pelo sim, pelo não", por forma a que fosse mais difícil de identificar.
Mais tarde, as autoridades ucranianas deram-lhe a informação de que o número que a tinha contactado estava a ligar da Rússia e ela então, na chamada seguinte disse que se queria afastar. "Foi aí que as ameaças começaram", recordou a mulher à BBC, dando conta de que do lado de lá lhe diziam: "O teu marido está a ser torturado e a culpa é tua".
À imprensa a mulher reforçou que não queria cometer traição, mas disse que, em certos momentos, ficou muito dividida, na medida em que pensou: "Será que esta pessoa está mesmo com o meu marido?"
Segundo responsáveis ouvidos pela BBC, cerca de metade dos familiares dos prisioneiros de guerra são contactados por agentes russos. Os números não são oficiais, mas, de acordo com o que uma fonte disse à BBC, haverá cerca de oito mil prisioneiros de guerra ucranianos sob controlo de Moscovo.
A BBC conta também que esta foi uma história com um final feliz, já que Dima, o marido, regressou a casa numa troca de prisioneiros há alguns meses. "Chorei muito. Como nunca tinha corado na vida"; recordou Svitlana.
A mulher contou ainda ao marido sobre as chamadas que recebeu, e o marido acabou por questionar, chocado, como é que ela "se tinha aguentado".
Kyiv e Moscovo intensificaram os seus ataques nos últimos meses e querem reforçar as suas posições antes de Donald Trump regressar à Casa Branca, a 20 de janeiro, depois de o presidente eleito dos EUA ter dito que quer acabar com a guerra assim que tomar posse.
A Ucrânia ataca regularmente alvos militares e instalações energéticas na Rússia, em resposta aos ataques do Kremlin que afetam o seu território desde 2022.
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