"Merece ser a cara desta conquista, que reflete a competência e dedicação, tanto dela, como de toda a estrutura e das colegas que, de uma forma ou de outra, também tiveram o seu papel neste processo", reconheceu à agência Lusa a ex-árbitra lisboeta (1997-2012).
Pelas 15:30, Catarina Campos, de 39 anos, vai dar início à receção do Casa Pia ao Rio Ave, em Rio Maior, na abertura da 27.ª jornada da I Liga, acompanhada pelas assistentes Andreia Sousa e Vanessa Gomes, tendo Fábio Veríssimo como quarto árbitro, enquanto as funções de videoárbitro (VAR) serão desempenhadas por André Narciso, coadjuvado por Nuno Pires.
Vogal da secção não profissional do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) nos dois últimos mandatos (2016-2020 e 2020-2025), com responsabilidades na gestão da arbitragem feminina, entre outras funções, Ana Raquel Brochado admite que a inédita nomeação da árbitra filiada na associação de Lisboa no escalão principal masculino eleva o caminho de "muitos anos" percorrido nos bastidores.
"Todo o trabalho desenvolvido pelo anterior CA, desde a preparação dos regulamentos ao acompanhamento das nossas árbitras a todos os níveis - e que se traduz numa lista bem recheada de pequenas e grandes conquistas -, vê agora a oportunidade de ser completado com mais esta conquista, que, naturalmente, tem maior impacto mediático e reconhecimento do público", apontou.
Ana Raquel Brochado regozijou-se com a projeção de Catarina Campos, que já tinha sido a primeira a chefiar uma equipa de arbitragem totalmente feminina nas provas profissionais portuguesas, "como parte da preparação do momento atual", ao dirigir a derrota do Paços de Ferreira na receção ao Feirense (1-2), em 15 de fevereiro, para a 22.ª ronda da II Liga.
Na história também está Andreia Sousa, de 38 anos, que se tornou a primeira assistente a figurar numa ficha de arbitragem de um jogo da I Liga em 13 de agosto de 2023, quando o Rio Ave derrotou em casa o Desportivo de Chaves (2-0), na abertura da edição 2023/24.
"A Catarina Campos junta competência técnica, poderio físico, inteligência emocional e uma atitude ajustada à posição que ocupa. Trabalhou muito na última década para aperfeiçoar cada um destes aspetos, dando maior atenção aos que mais limitavam a concretização dos seus objetivos, que foram sempre altos", avaliou a antiga árbitra, formadora, observadora e dirigente.
Internacional desde 2018, Catarina Campos faz parte da categoria de elite da UEFA há cerca de um ano e meio e já teve outras experiências recentes no futebol masculino, ao dirigir jogos no Campeonato de Portugal, quarto escalão nacional, e na Liga Revelação, ambos sob a tutela da FPF, bem como, no plano internacional, da UEFA Youth League.
Nas competições femininas, a assistente operacional da área educativa com vínculo à Câmara Municipal de Lisboa arbitrou duas finais da Taça de Portugal e outras tantas decisões de Supertaças, por entre diversas nomeações na Liga portuguesa, na Liga dos Campeões, na Liga das Nações e na fase final do Campeonato da Europa de sub-19.
Praticamente duas décadas antes da chegada de Catarina Campos à I Liga, Ana Raquel Brochado, então com 25 anos, foi a primeira mulher a arbitrar um encontro dos quadros nacionais seniores masculinos, no empate entre Bombarralense e Monsanto (1-1), em Óbidos, da segunda jornada da Série D da já extinta III Divisão, quarto escalão naquela altura, categoria em que permaneceria por seis temporadas, até abandonar os relvados.
Essa estreia aconteceu em 17 de setembro de 2006, mas ainda demorou a ser replicada junto do principal patamar dos homens, num hiato explicado pela capitão da Força Aérea "com a naturalidade de quem compreende que os fenómenos sociais - nos quais o desporto se integra - são reflexo e motor dos processos de crescimento da sociedade".
"Quando há 19 anos fui promovida, muitos jornalistas me perguntavam se o meu sonho era arbitrar um jogo da I Liga. Se for ver as minhas respostas, disse sempre que isso seria possível de acontecer, mas não na minha geração. Fico muito feliz por não estar enganada e por se concretizar, especialmente desta forma: não fruto do acaso, mas como consequência de um projeto consciente e intencional de desenvolvimento da arbitragem feminina que foi implementado na última década", notou.