Vontade dos militares de acabar guerra colonial motivou 25 de Abril

O historiador Reis Torgal procura demonstrar, num livro, que a importância de acabar com a guerra colonial foi determinante na motivação dos militares revolucionários que realizaram o 25 de Abril de 1974.

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Lusa
30/03/2025 12:56 ‧ há 2 dias por Lusa

Cultura

Livro

"O 25 de Abril resultou mais da necessidade de pôr termo à guerra e descolonizar do que de um desejo de democratização do país", declarou hoje Luís Reis Torgal à agência Lusa.

 

O autor da obra 'Quatro personagens à procura de Abril', que será apresentada em Coimbra e em Lisboa, nos dias 08 e 10 de abril, respetivamente, cumpriu o serviço militar como alferes na Guiné-Bissau, entre 1968 e 1969, período em que António de Spínola sucedeu a Arnaldo Shulz no cargo de governador da antiga colónia.

Afirmando que a Guiné "praticamente não tinha colonização", recordou a "guerra total" que havia no território, entre os guerrilheiros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e as tropas portuguesas, e que nesses anos Bissau, a capital, "era uma cidade militarizada".

"A Guiné, com cerca de 30 etnias, não era um território rico. Não havia uma colonização efetiva e profunda como em Angola, por exemplo", disse.

Sobretudo na Guiné, "aquela guerra estava completamente perdida", salientou Luís Reis Torgal, de 83 anos.

"Tínhamos quase medo de falar abertamente com os oficiais superiores", contou, para ressalvar que tinha uma relação próxima com o então major Carlos Fabião, depois membro do Movimento das Forças Armadas (MFA), que protagonizou o golpe do 25 de Abril.

A necessidade de acabar com a guerra colonial, nas três frentes de Angola, Guiné e Moçambique, e de promover a descolonização era frequentemente tema das suas conversas com o futuro membro do Conselho da Revolução.

"Fabião foi o meu chefe direto na Guiné e [também através dele] já em 1973 me apercebi que havia qualquer movimento para derrubar o regime", referiu.

Em "Quatro personagens à procura de Abril", Reis Torgal escreveu sobre o escritor Luís Sttau Monteiro, o pedagogo Joaquim Santos Simões, o teólogo Mário Oliveira, também conhecido por Padre da Lixa, e o coronel Carlos Fabião.

"São personalidades por vezes esquecidas ou só episodicamente lembradas, porque acompanharam a vitória de Abril, mas também foram, de modo diferente em cada caso, vencidas, pelos princípios que assumiram, pelo seu caráter e temperamento, pelas circunstâncias e pelo tempo", explicou no livro.

Por outro lado, enfatizou à Lusa que "a Guiné foi o ponto de partida de tudo", da génese do MFA e do 25 de Abril, e que Portugal persistia "numa guerra perdida, não há dúvida nenhuma".

Então licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, da qual está aposentado como professor catedrático, o investigador exercia o cargo de oficial de transmissões, no batalhão sediado em Mansoa, e comunicava diariamente com as demais unidades do Exército Português no território.

Cinco anos antes da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau pelo PAIGC, que aconteceu em 1973, antevia que "não havia nada a fazer" e que era necessário terminar a guerra com os movimentos de libertação das colónias de África.

"Com um aspeto verdadeiramente sentimental, devia este livro também a mim próprio, não quero explicar nada do 25 de Abril. Quis sobretudo referir-me a pessoas que me disseram alguma coisa", declarou.

Em Mansoa, Carlos Fabião convivia regularmente com os restantes militares, o que era raro da parte dos oficiais.

"Cantávamos Zeca Afonso e Adriano e ele dizia sempre: 'eu não estou cá'", recordou Luís Reis Torgal.

Na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, no dia 08, e na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa, no dia 10, sempre às 18h00, o livro, editado pela Temas e Debates, vai ser apresentado pela historiadora Maria Inácia Rezola, comissária executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

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