Com "106 criações e dezenas de digressões no país e no estrangeiro" a marcarem o balanço dos 40 anos da companhia, o encenador Fernando Mora Ramos disse à agência Lusa esperar que 2025 intensifique "a potencialidade estruturante" e que, em 2026, o Teatro da Rainha veja renovado "automaticamente como propõe a lei" o apoio recebido nos últimos quatro anos por parte da Direção-Geral das Artes.
Em 40 anos, o Teatro da Rainha criou e apresentou espetáculos "do Algarve às ilhas" e em países como Moçambique, Brasil, Espanha e Roménia, a par com residências prolongadas em Évora, Lisboa, Coimbra e Porto, enumerou Mora Ramos.
Do reportório constam desde os autores clássicos e contemporâneos "que romperam com o teatro convencional burguês" a "experiências de conversão de materiais narrativos em espetáculos, com textos de Ernesto Sampaio, Mário-Henrique Leiria e o genial Alberto Pimenta que, neste 2025, será objeto de um ciclo de revelações".
O 'Ciclo Pimentíada', dedicado a Alberto Pimenta, vai abordar a obra do autor "a partir de vários ângulos", entre os quais a encenação de um texto ('Indulgência Plenária') e a realização de um colóquio, agendado para março e que contará com Júlio Henriques, Joëlle Ghazarian, Maria Irene Ramalho, Manuel Portela e Lúcia Evangelista, entre outros estudiosos.
A temporada arranca na sexta-feira com 'Jorge Patego ou o marido humilhado', numa revisitação à comédia de Molière com que Fernando Mora Ramos inaugurou o seu percurso na encenação em 1979.
A primeira nova criação será, em março, o espetáculo 'Quem está aí?', partindo de um texto escrito a oito mãos (Cecília Ferreira, Elisabete Marques, Manuel Portela e Henrique Manuel Bento Fialho) numa oficina de criação que durou três anos.
"Neste processo, este estranho corpo de quatro inteligências sensíveis, partiu do tema 'invisibilidade'", para desenvolver uma narrativa que alude ao "controlo social numa sociedade hipervigiada, abordando-se a questão das migrações em torno da edição de uma notícia", explicou Mora Ramos.
A segunda criação será em coprodução com o Teatro das Beiras, num regresso a Peter Weiss com a peça 'A Noite dos Visitantes'.
Para o final do ano, ainda sem data de estreia, a companhia reserva a terceira nova criação: 'Órfão', de Dennis Kelly, peça sobre o racismo contra paquistaneses "numa Londres periférica" que Mora Ramos diz lembrar "indiretamente, o que esteve por detrás do estranho acontecimento na Rua do Benformoso", em Lisboa.
Em 2025 destaque ainda para o trabalho de criação a desenvolver com o ator/bailarino moçambicano Samuel Nhamatate, que trabalhará sobre um texto de Fernando Mora Ramos para levar à cena "Um corpo estranho dá ao palco". O espetáculo será apresentado em 2026, em Portugal e em Moçambique.
Em 2025, a companhia prossegue o ciclo de poesia 'Diga 33' que até junho terá como convidados Miguel Serras Pereira, Rosa Oliveira, Ana Salgueiro, Maria José de Lancastre e Carlos Bessa.
Na formação está programada a 'Oficina Electra, entre o texto e a cena' e oficinas dedicadas a amadores de teatro.
O aniversário da companhia será ainda assinalado, em setembro, com um colóquio em que os espectadores serão desafiados a falar das peças que mais os marcaram e por uma exposição por módulos, com a duração de um ano e a decorrer em vários espaços da cidade.
A mostra conta com fotografias, materiais das bandas sonoras dos espetáculos, cartazes, desenhos de cenografia, objetos cenográficos e pinturas.
Leia Também: Afonso Reis Cabral diz que Eça entra no Panteão aos ombros dos seus leitores